sábado, 6 de novembro de 2010

A Primeira Guerra Mundial 1914/1918

Por que produzir um texto sobre I Guerra Mundial, se quase todo mundo só fala em Segunda Guerra e os horrores do Holocausto?
Por isso mesmo, por achar que a História não dá a devida atenção ao conflito que inaugurou duas grandes novidades em questão bélica: o envolvimento de várias nações e continentes ao mesmo tempo em um só conflito, e o uso da tecnologia desenvolvida no bojo da Revolução Industrial, aliás a grande responsável pelo maior conflito do início do Século XX.
Até o Conflito de 1914/1918, as guerras eram em território fechado e afetava pouco as populações civis, pois não se usava aviões(até porque eles não existiam) e os artefatos bélicos eram menos mortíferos. Com exceção do período Napoleônico, que realmente engalfinhou todos os países europeus em um só conflito, a Primeira Guerra se supera por sua violência e no vale tudo que se propuseram os aliados na destruição da Alemanha.
Antecedentes:
Sistema de Alianças:
Desde a sua unificação a Alemanha previa problemas, pois ao entrar tardiamente na corrida colonialista, já não mais encontrou territórios disponíveis para sua expansão comercial, sendo assim necessário apoiar-se em outras nações na expectativa de que com um confronto, o capitalismo alemão conseguisse um lugar ao sol.
Inglaterra, França e Rússia também tinham interesses colonialistas e a união dessas três nações serviria para impedir o avanço do Império Áustro-Hungaro e Otomano nas regiões de interesse dessas nações. Assim nascem as Alianças.
Tríplice Aliança: 1879- Alemanha e Áustro-Hungria assinam um tratado de cooperação mútua, e em 1882, a Itália se une a esses dois países, fechando assim a Tríplice Aliança. O problema dessa aliança era a Itália, que não definia sua posição, e no decorrer da I Guerra (1916) mudou de lado apoiado os Aliados.
Tríplice Entente: 1894 a Rússia assina um acordo de cooperação mútua com a França, e em 1904 a Inglaterra se une as duas nações formando a Entende(Entente Cordiale).
Imperialismo
O final do século XIX, principalmente após a Conferência de Berlim, realizada entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885,pelo Chanceler alemão Otto Von Bismark, teve como principal objetivo organizar normas para a ocupação da África pelas potências coloniais, que dividiram o continente a sua revelia sem respeitar as diferenças históricas, éticas e familiares pertinentes aos africanos.
Outro fator também complicado foi a política diplomática internacional dos norte-americanos, definida por Theodore Roosevelt como “Big Stick” e pronunciada em seu discurso de 1901, aonde Roosevelt declara a seguinte frase “ Fale com suavidade, mas tenha um porrete nas mãos”.
O que marcaria o fim da Belle Époque, ou seja, o período de prosperidade da burguesia em detrimento da miséria que condenava as classes operárias. E o início de período foi caracterizado pela corrida armamentista, conhecido por "Paz Armada", várias nações instituíram o serviço militar obrigatório e os exércitos passaram a ter maior influência na vida política. Esse processo deveu-se ao desenvolvimento do capitalismo monopolista e do neocolonialismo, que caracterizam o imperialismo. As grandes potências industriais adotaram a política expansionista para garantir o controle sobre os mercados afro-asiáticos, a partir da concepção de que o desenvolvimento industrial da cada nação somente seria possível na medida em que houvesse o controle sobre grandes mercados.Essa mentalidade imperialista foi responsável não só pelo militarismo, como também por maior exaltação nacionalista.
Nacionalismo
O Nacioalismo vai se desevolver de forma desigual na Europa, com base na própria formação imperialista das nações e seus interesses.
Na Itália o sentimento nacionalista esteve presente nas duas grandes revoluções do século XIX, durante as revoluções liberais de 1830 e 1848, e no processo que culminou a unificação do país em 1861, sendo Veneza anexada em 1866 e Roma em 1870.
Na França o nacionalismo esteve presente na Revolução Francesa, manifestado principalmente o ideal de fraternidade, se bem que a revolução agudizou a luta de classes, enquanto na Alemanha e na Itália, as unificações baseadas no discurso nacionalista cumpriu o papel inverso, o de encobrir as desigualdades sociais, característica fundamental do nacionalismo.
Mesmo nos EUA, onde não existia um nacionalismo clássico, este encontrou seu equivalente na Teoria do Destino Manifesto, de origem calvinista, que serviu como justificativa ideológica para o expansionismo ao longo do século XIX e para a formação de sua política intervencionista, a política diplomática internacional dos norte-americanos, definida por Theodore Roosevelt como “Big Stick”.
Revanchismo
O revanchismo francês desenvolveu-se após a humilhação de 1871, quando da proclamação do II Reich Alemão no Palácio de Versalhes e perda das ricas regiões de minério e carvão da Alsácia-Lorena. Nas escolas as crianças francesas foram estimuladas a exaltar o patriotismo e a aceitar o sacrifício pelo seu país. Na verdade esse revanchismo não deixa de ser uma manifestação nacionalista que desenvolveu-se ao mesmo tempo em que as estruturas políticas do país foram se tornando mais liberais, possibilitando maior participação, estimulando o senso crítico e a noção de cidadania, portanto situação contrária vivida pela Alemanha, onde o nacionalismo seguiu a orientação de um estado centralizado e forte.
Pan Eslavismo
Desde o final do século XIX, com a decadência do Império Turco e o processo de independência dos povos da região balcânica, é que esse território tornou-se alvo de múltiplos interesses. A Áustria pretendia ampliar sua influência sobre a região e iniciar um processo de expansão. A mesma política foi desenvolvida pelos russos, afastados do Extremo Oriente após a derrota para o Japão em 1905, voltaram as atenções para os Bálcãs, onde a política russa foi de apoio à Sérvia, foco de agitação nacionalista anti-austríaca que utilizaram o argumento "pan-eslavista", e haviam ainda os interesses peculiares à própria região, em especial o dos sérvios, que desejavam criar a “Grande Sérvia”,dentro deste desejo a Sérvia fomentava agitações nacionalistas, sendo constante os atritos, levando quase a um conflito armado em 1908, quando a Áustria ocupou a Bósnia-Herzegovina, e em 1912 quando apoiou a independência da Albânia, nas chamadas Primeira e Segunda guerras Balcânicas.
É neste contexto que o arqueduque da Áustria, Francisco Ferdinando é assassinado em Sarejo,capital da Bósnia, em 28 de junho de 1914, pelo jovem nacionalista sérvio Gavrilo Princip. O interessante é que esse episódio seja a chave que romperá a Grande Guerra, já que Ferdinado não era a pessoa mais indicada para assumir o troco austríaco, não contava com o apoio da eleite austríaca e nem mesmo do seu tio, o imperador Francisco José.
O que podemos avaliar são os interesses da Alemanha, em por mais lenha na fogueira da crise de julho por saber que a Rússia interveria a favor da Sérvia, e junto da Rússia, a França e Inglaterra teriam que vir juntas, já que faziam parte da Tríplice Enntente.
A partir daí os acontecimentos se precipitaram:
Áustria, apoiada pela Alemanha, enviou um ultimato à Sérvia, o qual, não sendo atendido integralmente, levou os austríacos a declararem a guerra; Rússia mobilizou as tropas em defesa da Sérvia, recebendo um ultimato alemão para se desmobilizar; em 1 ° de agosto a Alemanha declarou guerra à Rússia e, dois dias após, à França; imediatamente a Bélgica foi invadida, ignorando pela Alemanha a sua neutralidade, o que levou em 4 de agosto, a Inglaterra a declarar-lhe guerra; a Itália se omitiu, embora pertencesse à Tríplice Aliança, argumentando que o seu compromisso com a Áustria e com a Alemanha previa sua participação apenas no caso de tais países serem agredidos.
Mapa da Europa antes da I Guerra
Guerra de Movimento
Em 1914, a tendência principal foi dada pela ofensiva alemã na frente ocidental, com a penetração em território francês, e pelo avanço nos Bálcãs, onde a presença turca foi essencial. Entretanto, em setembro a ameaça que pesava sobre Paris foi detida pela batalha do Marne, que levou à estabilização da frente ocidental. Por terra, a Alemanha foi bloqueada pelos Aliados e suas colônias ocupadas, ao mesmo tempo em que os alemães iniciavam a campanha submarina, provocando enormes perdas dos Aliados. Na frente oriental, a ofensiva russa foi detida pelas vitórias alemãs nos Lagos Mazurinos e em Tannenberg.
Guerra de Trincheira
Compreendendo os anos de 1915 e 1916, o período caracterizou-se na frente ocidental pela “guerra de trincheiras”. O ano de 1915 foi marcado por gigantesca ofensiva alemã na frente ocidental visando eliminar a Rússia, antes de se voltar contra a França.
Os exércitos russos começaram a se desagregar. Há um excessivo número de baixas entre os soldados russos, e não era de se esperar outra coisa, já que estavam mal armados, com roupas inadequadas ao rigoroso inverno e com poucas provisões. Na verdade para a Rússia, a I Guerra foi uma aventura desagradável, e causou ao regime czarista o seu fim, já que em 1917 em plena Guerra, a Rússia sofre a Revolução Bolchevique que derrubará o czar Nicolau II e porá fim ao regime absolutista russo, criando a primeira nação socialista no mundo.
Nesse mesmo ano, a Itália entrou na guerra a favor dos Aliados, em troca de promessas inglesas de participar da partilha das colônias alemãs na África, receber vantagens territoriais na Ásia Menor e uma posição dominante no Adriático: isto permitiu a abertura e nova frente. A Bulgária aderiu às Potências Centrais(Tríplice Aliança).
A partir de 1916, o principal cenário da guerra foi à frente ocidental, onde se defrontavam franceses e alemães, destacando-se a batalha de Verdun, que paralisou a ofensiva germânica e a sangrenta batalha de Somme, que contabilizou 1 milhão de vidas de ambos os lados. Na Europa Oriental, a Entente realizou uma ofensiva que estimulou a entrada, ao lado dos Aliados, da Romênia, logo ocupada pelas Potências Centrais.
1917, um ano decisivo
O Ano de 1917, é marcado pela reviravolta no cenário de guerra, a Rússia deixa o conflito após os bolcheviques assinarem o Tratado de Brest-Litovsk, aonde os territórios ocupados pelos exércitos alemães ficaram com a Tríplice Aliança.
Os E.U.A entram no conflito após ter vários navios afundados pelos alemães. Os norte-americanos entram ao lado da Tríplice Entente, num momento crucial para a guerra, já que os países envolvidos sofriam pesadas críticas da sociedade por conta do número absurdo de baixas e da falta de abastecimento.
Na França tropas amotinadas devido o fracasso na ofensiva de Sommer. Inglaterra a beira de um colapso financeiro e mesmo a Alemanha enfrentava problemas, pois sua campanha submarina fracassa causando desabastecimento nas linhas de combate. O caos estava imperando.
A contribuição norte-americana foi decisiva: financeiramente, os EUA passaram a auxiliar diretamente os países da Entente; economicamente, foi um golpe na campanha submarina da Alemanha, que passou a ser bloqueada, ao mesmo tempo que, a entrada em cena dos contingentes norte-americanos quebrou o equilíbrio, já precário, mantida pelas Potências Centrais; diplomaticamente, a maioria dos países da América Latina declarou guerra às Potências Centrais.
1918 – Vitória final do Aliados
O inicio de 1918 foi inaugurado pela enorme ofensiva das Potências Centrais contra a Entente, visando impor condições a esta, antes que as tropas norte-americanas chegassem totalmente à Europa. Nesse ano, foram utilizadas todas as inovações bélicas (tanques, aviões, gases venenosos etc.), recomeçando a “guerra de movimento”. Entretanto, a ofensiva alemã foi paralisada pela segunda batalha do Marne. A balança de forças se inclinou definitivamente para a Entente, que iniciou uma contra-ofensiva de grandes proporções, levando os alemães ao recuo.
Na Europa Oriental, a Bulgária capitulou, o mesmo ocorrendo com a Turquia que, ameaçada pelas vitórias inglesas na Síria e no Iraque, decidiu depor as armas. A Hungria foi ameaçada e os italianos em Vittorio Veneto iniciaram grande ofensiva. O Império Austro-Húngaro se decompôs, pois cada nação proclamou sua independência. Só a Alemanha prosseguiu a guerra, mas a partir de novembro estouraram rebeliões da esquerda e, a 9 de novembro, a República foi proclamada.
A 11 de novembro, os representantes do Governo Provisório alemão assinaram em Rethondes o armistício que punha fim à guerra.

Mapa da Europa após a I Guerra Mundial


A Economia de Guerra
Por ter sido uma guerra longa, quatro anos de conflito e por ter sido generalizado, a Primeira Grande Guerra gerou uma série de mudanças na atitude do Estado em relação à economia. Se antes da guerra o que valia era a livre concorrência, a exploração de matérias primas das colônias e da boa vida da burguesia em detrimento à miséria do operário, agora cada Estado passa a controlar ou a submeter à sua autoridade em relação à economia.
Os problemas econômicos gerados pelo conflito:
Recrutamento obrigatoriamente de civis, pois as batalhas sistemáticas levaram a esgotar as reservas de militares de carreira.
Modernizaram e intensificaram a produção de material bélico; utilização em larga escala da mão-de-obra feminina e a regulamentação de seu emprego.
A economia de guerra, que suprimiu a liberdade econômica, incluiu a fixação dos preços de venda das mercadorias e o racionamento mediante o estabelecimento de cotas de consumo à população civil. Proibia-se a importação de produtos de primeira necessidade e se controlavam os transportes, inclusive com o congelamento dos fretes. As fábricas deveriam produzir apenas artigos de guerra, os salários ficaram congelados e proibidas as greves.
O financiamento da guerra ultrapassou as expectativas, tendo os Estados recorrido aos empréstimos externos e internos, destacando-se também o problema dos abastecimentos: pela primeira vez na História adotou-se o racionamento, iniciado na Alemanha e estendido a todos os países. A vida tornou-se muito difícil para a população civil, que teve seu poder aquisitivo diminuído com a alta desenfreada dos preços e o congelamento salarial em um momento em que a greve era proibida por ser considerada atividade “antipatriótica”.
Tratado de Versalhes
Em 11 de novembro de 1918, exausta e sozinha a Alemanha sofre uma revolução interna, que derruba o Kaiser Guilherme II e levam os sociais democratas ao poder. Tendo claro que a guerra era imperialista, os socias democratas aceitam o armistício que os acaba levando à derrota incondicional.
Na verdade a Alemanha não estava tão mal assim no conflito, possuía territórios russos, conferido no tratado de Brest-Litovsk, além de estar bem avançada em territórios franceses e belgas. Por esses motivos o Acordo de Paz deixou a população alemã bastante descontente e humilhada.
As figuras principais da Conferência foram os representantes da França (Clejnenceau), Inglaterra (Lloyd George) e Estados Unidos ( Wilson) que concordaram em fundar a Sociedade das Nações.
Além da divisão entre os vencedores, dificultando a paz, os países vencidos se recusavam a assinar os injustos tratados impostos, procurando a Alemanha, por todos os meios, ludibriar as determinações neles contidas. A Áustria e a Hungria não se conformaram com os tratados, que reduziram a primeira a um “anão disforme”. A Bulgária não aceitou a perda de portos do Egeu e, na Turquia, o governo dos Jovens Turcos, chefiado por Mustafá Kemal, que havia deposto o Sultão, recusou-se a aceitar a “humilhação do Tratado de Sèvres”.
Mas todos os vencidos tiveram que aceitar os tratados.
Cláusulas de segurança (exigidas pela França, que temia a desforra dos alemães: proibição de fortificar ou alojar tropas na margem esquerda do Reno, totalmente desmilitarizada; fiscalização do seu desarmamento por uma comissão interaliada; em caso de agressão alemã à França, esta receberia auxílio anglo-norte-americano; redução dos efetivos militares; supressão do serviço militar obrigatório, sendo o recrutamento feito pelo sistema do voluntariado; supressão da marinha de guerra e proibição de possuir submarinos, aviação de guerra e naval, e artilharia pesada;
Clausulas territoriais: devolução da Alsácia - Lorena à França, de Eupen e Malmédy à Bélgica, do Slesvig à Dinamarca; entrega de parte da Alta Silésia à Checoslováquia; cessão da Pomerânia e dá Posnânia à Polônia, garantindo-lhe uma saída para o mar, mas partindo em dois o território alemão pelo corredor polonês; renúncia a todas as colônias que foram atribuídas principalmente à França e à Inglaterra; entrega de Dantzig, importante porto do Báltico, à Liga das Nações, que confiou sua administração à Polônia;
Cláusulas econômico-financeiras: a título de reparação, deveria entregar locomotivas, parte da marinha mercante, cabeças de gado, produtos químicos; entrega à França da região do Sane, com o direito de explorar as jazidas carboníferas ali existentes, durante 15 anos; durante dez anos, fornecimento de determinada tonelagem de carvão à França, Bélgica e Itália; como “culpada pela guerra”, pagaria, no prazo de 30 anos, os danos materiais sofridos pelos Aliados, cujo montante seria calculado por uma Comissão de Reparações (em 1921, foi fixado em 400 bilhões de marcos); concessão do privilégio alfandegário de “nação mais favorecida” aos Aliados;
Cláusulas diversas: reconhecimento da independência da Polônia e da Tchecoslováquiá; proibição de se unir à Áustria; responsabilidade pela violação das leis e usos da guerra: utilização de gases venenosos e atrocidades diversas; reconhecimento dos demais tratados assinados.
Na verdade o Tratado de Versalhes abrirá novas feridas na Alemanha e com a crise de 1929,que levaram as grandes potências a beira da falência, será um prato cheio de ódio que resultará no surgimento do Nazismo, e que em 20 anos levará a Europa a um novo conflito mundial, muito mais cruel e desastroso que o anterior.

Bibliografia:
www.culturabrasil.po.br
www.suapesquisa.com
Revista BBC História, fascículo 10 – PP 10, 11, 13 e 26
Por: Denise Oliveira -novembro 2010