segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O Sanhaço, a Jaguatirica e a Arapuca.



A coisa aconteceu mais ou menos assim.
O sanhaço desceu até a beira do rio Chipió para beber água. Aí, ele viu aquela coisa muito estranha... Não era bicho, nem planta e também não era pedra ou tronco velho caído, apodrecendo no meio do caminho. Tratava-se de algo que ainda não se tinha visto por aquelas bandas. 
Parecia a toca de algum bicho, ou o ninho de algum passarinho bem grande, mas tinha folha por cima como se fosse o chão do mato. Além disso, ele estava com fome e lá dentro tinha sementes de sei lá o quê...
A curiosidade dava para matar, porém algo dizia escondido dentro da sua cabeça: "- Não entra... Você não vai gostar."
Ele rodeou, rodeou, olhou , bicou dos lados, subiu em cima. Não acontecia nada. Tudo estava na mais perfeita paz... Dava para confiar: aquilo que estava ali era aquilo mesmo e não costumava ser diferente, portanto, enquanto houvesse luz no céu, (por que de noite as coisas mudam...), só iria acontecer o que já tinha acontecido em algum lugar e ali se repetia.
A confiança vem sempre acompanhada da ousadia e o receio cuidadoso de antes foi trocado por uma displicência abusada. Ele subiu outra vez por cima daquele trem, bicou seus ramos de novo, meteu meia cabeça pra dentro, entrou e saiu daquela toca, se protegeu nela da chuva, que caiu perto do meio-dia, usou e abusou do direito de não prestar atenção nos perigos que o rodeava e até tirou onda dormitando mais para dentro do que para fora daquele troço. Dava para confiar, aquele negócio não iria lhe fazer mal, pois não passava de uma toca abandonada.
Foi aí, na hora da confiança despropositada, que apareceu não se sabe da onde uma jaguatirica braba, que veio cheia de fome para cima do sanhaço. O passarinho estava tão desprevenido e ficou tão assustado, que esqueceu que sabia voar e espavorido correu para dentro daquele negócio que, de repente, fechou-se em cima dele fazendo um barulhão tão grande que espantou até a jaguatirica.
Hoje em dia o sanhaço canta numa gaiola e pertence a um menino que, na maior parte das vezes, lhe trata com muito carinho e nunca deixa faltar sementes e água. Jamais pensa que poderia ter voado, ao invés de cair na arapuca, e é muito agradecido ao moleque que o salvou da jaguatirica.


Por: Carlos Ditzz, outubro de 2014









domingo, 26 de outubro de 2014

Eleições 2014: a farra da farsa eleitoral




Vamos fazer uma análise real do que foi o processo eleitoral de 2014, sem mentirmos para nós mesmos, sem procurarmos desculpas esfarrapadas, e principalmente sem colocar a culpa, apenas da falta de clareza política da maioria da população brasileira?
Pois bem, o desenho desse processo eleitoral, iniciou no ano passado, no que se passou a denominar Jornadas de Junho/Julho-2013. Ali, a população mostrava-se ansiosa por mudanças, indignada com os gastos na preparação da Copa do Mundo, da falta de respostas as suas principais demandas como saúde e educação. A essa população, foi dado sim, repressão. Pela primeira vez, as grandes massas populares, que até então viam bomba de lacrimogêneo  sendo atirada trabalhadores grevistas(aqueles que atrapalham o bom encaminhamento das coisas), ou a truculência policial apenas nas favelas(local de bandido), puderam sentir nos seus próprios olhos, como as demandas sociais são tratadas há séculos pelo “donos do poder”.
Eram manifestações coxinhas, sim..a grande maioria que ocuparam as ruas do Brasil inteiro, não eram militantes de partido algum, eram pessoas, simples mortais, cobrando do governo tido, ou dito dos trabalhadores, uma resposta para todas as suas demandas.
A mídia corporativo-burguesa fez o seu trabalhinho sujo, criminalizando todas as manifestações. A esquerda, se percebendo fora do controle desse movimento, já que a palavra chave, foi SEM PARTIDO, tratou logo de juntar-se a  mídia e ao governo, para atacar, os blacks blocks e todo movimento anarquista, que mais do que presente, esteve na linha de fogo o tempo todo.Neste aspecto, as esquerdas falharam feio, não citarei denominações partidárias, porque se faz desnecessário.
Dentro dessa dicotomia, entre anseios populares, governos e partidos ditos de esquerda, a extrema direita, reacionária, encontrou seu espaço. Estamos falando de uma população pouco politizada, que quer mudanças, que precisa se ver representada, que acredita no voto como fonte dessa representatividade, e foi aí, que os partidos de esquerda...TODOS ELES, a meu ver, deram um mole enorme.... É claro, que a intenção era mesmo calar a população.
Em fevereiro de 2014, o RJ, ainda se rebelava. Aconteceu o triste incidente com o Jornalista/Cinegrafista da Rede Bandeirantes. Não ouvi da mídia, em nenhum momento, crítica a rede de televisão que não capacitou com segurança seu trabalhador, e também pouco vi da esquerda pressão para que a Bandeirantes, fosse minimamente culpabilizada por colocar um trabalhador sem  equipamentos de segurança, para cobrir um ato contra o aumento das passagens. Não vi, em momento algum, a esquerda questionar a força demasiada da polícia, com suas bombas de lacrimogêneo, sobre os manifestantes. Mas , vi a esquerda apontando o dedo para os black blocks e todo movimento anarquista, ajudando a criminalizar mais ainda os anseios populares. Vi, o deputado, dito como o mais progressista de todos, assinando a CPI sobre os black blocs, que culminou, nesse ano, na perseguição e prisão de  manifestantes, inclusive dos meus amigos e colegas de trabalho, Pedro, Filipe e Rebeca, entre outros 26 manifestantes, e inúmeras invasão à privacidade de todos que estivemos nas ruas, exigindo transformações sociais.
Então veio a Copa, e todos foram torcer pro Brasil e ver jogos.Nós, os chatos de plantão, continuamos a gritar “não vai ter copa”, o que na verdade acabou não tendo mesmo, já que para garantir os jogos, o poder teve que montar um esquema surreal de proteção aos estágios...Ora bolas, no país do futebol, o lacrimogêneo ser a moeda de maior valor para que a paixão nacional fosse enfim vivida, por uma elite branca e estrangeiros...e o povo ficou de fora de novo.
A Copa acabou, o Brasil perdeu de 7 a 1 e a inflação chegou a galope. E cadê as ditas mudanças tão esperadas pelo povo? Veio na forma de campanha na manutenção da farsa eleitoral, que mantêm a farsa democrática. No leque, os piores candidatos na bandeja de opções. Propostas, planos de governo, nenhum...baixaria, e baixaria...os desejosos pelo poder, fingindo serem inimigos uns dos outros...e a direitona ultra reacionária, conservadora e podre acenou com essa tal mudança. Ué, se é pra mudar, num cenário aonde todos são iguais, então mudamos as caras dos candidatos. Foi aí que deu um nó na cabeça da esquerda. Jair Bolsonaro, o rei da cretinice, o mais votado para deputado estadual no RJ, o racista do Luiz Carlos Heinze, o mais votado como deputado federal , no RS. Tiririca, o segundo mais votado em SP. Aliás SP, ainda manteve sem questionar o governador Alkimin, mas conhecido com Picolé de Chuchu e o rei das bicas secas.
E lá vem a esquerda esquizofrênica, dar chiliquito...”como pode???”
Pode, sim...pode porque essa esquerda caviar, não quer nada de luta, não quer nada de mudança, não quer nada que a aborreça...Ficar encastelados em gabinetes, sindicatos burocráticos, universidades conservadoras, barzinhos de classe média é bem mais agradável que encarar e abraçar a verdadeira classe trabalhadora. Que horas as bandeiras vermelhas flamularam e vieram pra rua, junto com o povo trabalhador? Em que horas vimos ditas bandeiras vermelhas nas  desocupações das favelas Metro Mangueira (janeiro de 14), ou Oi Telemar(abril de 14)? Nos atos contra a Copa, durante a Copa? Ao lado dos trabalhadores que ousaram fazer greves na Copa?Eu vi sim, a esquerda correr da polícia, mesmo sem ter havido uma bomba de lacrimogêneo sequer, no Grito dos Excluídos de 2014.Isso eu vi!
 Pois é esquerda esquisita, agora agüenta...e não venha colocar a culpa na despolitização do povo não, porque, a vocês, é também muito agradável, que essa massa despolitizada se mantenha assim, afinal, vocês não querem revolução coisa nenhuma...No máximo um gabinete com ar condicionado, ou um sindicato pra mamar nas tetas.
O povo respondeu, da mesma maneira do que no não vai ter copa. Também não teve voto..e nesse ponto a massa fez bonito...o governador eleito em primeiro turno foi o voto branco/nulo. É, vocês ficaram com uma batata quente na mão, apóia  a política neoliberal rosa-bebê do PT, ou parte pro voto nulo??? A maioria, que tanto fez para abafar as lutas dos trabalhadores, na ânsia de partir pra campanha eleitoral, veio agora, na maior cara de pau declarar voto nulo. Esquerda cretina, ninguém mais acredita em você.
A massa que foi pra rua em 2013, deu ser recado. Pezão 4.332.623 votos;Boycote(nulos, brancos e abstenções) 4.335.328... e no governo federal.
Na esfera federal, a Dilma levou, no sufoco, mas levou. Resultado ainda parcial: Dilma 54.447.455 e Aécio 51011.272.. Boyocote 30.098.004.
O povo mostrou que podem até não ser o supra sumo da consciência política, mas essa esquerda que nos freia, levou uma lambada das mais gostosas vista, por até hoje... E que venha a rua, afinal “ O lacrimogêneo é o meu pastor, a falta de ar não me faltará”!

Por: Denise Oliveira/ outubro de 2014






quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O Urubu Andarilho...(homenagem a um grande amigo...)




Aconteceu num lugar ermo bem distante daqui e num tempo em que o que era longe ficam tão distante que parecia ser noutro mundo. Tratava-se de um urubu que nunca voava, fosse pelo que fosse, demorasse o que demorasse, ele sempre ia andando. 
A esquisitice, porém, não terminava aí, o coitado do pássaro submetia-se a uma dieta asquerosa para todos os da sua especie: só comia frutas frescas, cocos que haviam caído há pouco tempo do pé e se afastava irritado de tudo que fosse lixo ou cheirasse a podridão.
A pobre ave, que todos na floresta, ou melhor no sertão, já consideram fora de si, também não gostava de ficar junto aos seus. Ele aceitava na boa empoleirar-se com os papagaios e até correr com as emas, o que lhe dava muito cansaço. Contudo, se outro urubu se aproximava dele, o bicho virava uma fera, xingava todo mundo e saia do lugar as carreiras.
Um dia , quando ele estava sozinho na campina, muito aborrecido com o fedor que vinha da carcaça de um veado morto por uma onça e que se transformara num lauto banquete para os seus irmãos, ele ouviu uma voz misteriosa, que parecia que vinha do céu.
- "Urubu, urubu, sou eu , Deus, quero falar um pouco com você."
- " Falar comigo por quê?! Você decidiu que bichos não têm alma, não têm inteligência e, portanto, não podem ter fé e religião."
- "Eu sei urubu, mas tenho visto você de muito estranho e sei que o seu coração anda muito amargurado. Eu posso ajuda-lo e fazer com que a vida se torne mais agradável."
Ao ouvir essa palavras, o urubu perdeu a cabeça e começou a esbravejar: - "Chem chem chem?!! Chem, chem,chem chem.... Chem chem. Chem chem?!" Chem chem.(opa! desculpem, esqueci de traduzir... : -"Tá pensando o quê?! Eu não sou palhaço... Me respeite. Tá me ouvindo?! Me respeite....).
Deus, então, ficou bastante sem graça... E pensou: aquela criatura estava revoltada, cheia de ódio contra ele e por que razão?! Ainda bem, pensou, que os pássaros não vão para o inferno! O diabo iria pintar os canecos com esse ai...
Deus, que sempre perdoa as mais vis do universo, o homem e os políticos, resolveu dar uma injeção de ânimo no urubu e lhe disse:
- "Puxa , meu amigo, eu lhe fiz o rei dos céus, o pássaro que voa mais alto que já existiu, o tornei forte e capaz de resistir a doenças que a maior parte dos outros animais não suportariam e até fiz aquele monstro, o homem, considera-lo útil e não perturba-lo. Ah, você não tem do que reclamar, os pardais, que são tão bonitos estão em extinção, as águias e os falcões enfrentam o mesmo destino e como é triste a história dos dodos ... E você não vai passar por nada disso."
Enquanto Deus falava, o urubu não sossegava. Se remexia o tempo todo, olhava para Deus com caras de ironia e raiva e só não falava junto, poque Deus falava com tamanha bondade e carinho, que mesmo ele ficou calado. Contudo, assim que o criador terminou, o urubu disparou furioso:
- "Reis dos céus, rei dos céus, hum.... Você me fez muito do feio, todo mundo me acha horroroso. Eu só como coisa podre e fedorenta, que ninguém mais quer . Meu canto é horrível e é um aviso ruim para os humanos. Ninguém me quer como "bicho de estimação" e todos me acham tão nojento, que nem me caçam para comer. Você fez papagaios tão lindos e espertos, araras lindíssimas, a ave do paraíso e o uirapuru com seu canto deslumbrante... E ainda por cima todos me chamam por esse nome danado de feio:"urubu"... Por que logo eu fui tratado assim, desse modo tão injusto?! Você tem dois pesos e duas medidas. Mas agora não voo mais, não como mais carniça e não vivo mais entre os meus irmãos. E mais, eu quero que você vá catar coquinho no rio Chipió, que fica bem perto daqui."
Ao ouvir essas palavras, Deus, teve pena (...de uma ave?!) do urubu, o abençoou e deixou a coisa como estava, pois se o coitado do pássaro compreendesse ou se sensibilizasse com a beleza que ele podia ver lá do alto, talvez não se importasse com outros problemas, nem poria a culpa em Deus, ou no destino, por ser o rei dos céus....

Por: Carlos Dittz
Outubro,2014

O Impasse




Bem longe daqui, lá perto dos cafundós do mundo, depois do lugar em que o diabo perdeu asbotas, um escorpião muito esperto e acostumado com as maldades da floresta, viu que do outrolado do rio havia mais comida do que na margem que ele se encontrava. Como os escorpiões nãosabem nadar, ele resolveu pedir ajuda a um sapo novinho e meio bobalhã que não parava de pular na água.
Depois de uma longa conversa, na qual não faltaram promessas e juras, o sapo topou a parada e deixou o escorpião subir nas suas costas para leva-lo à outra margem. Quando os dois estavam quase chegando, o escorpião não conversou e deu um ferroada no sapo. Indignado e muito surpreso o batráquio gritou com o seu "parceiro", dizendo que ele não cumpriu o acordo que haviam feito. O escorpião, cheio de cinismo, respondeu então p que ele sabia disso, mas que não podia fazer nada por que a traição era coisa própria da sua natureza.
Nessa hora, para surpresa do escorpião, o sapo bastante tonto deu meia volta e retornou rapidamente para o meio do rio. Dessa vez foi o escorpião que gritou com o sapo, falando que assim os dois iriam morrer e que se ele não voltasse para margem, lhe daria outra picada. O sapo disse para seu "camarada" que se ele fizesse isso, aí é que os dois iriam morrer mesmo. O escorpião entendeu e apesar de ficar com o bote armado, passou a torcer para que o sapo aguentasse o seu veneno e continuasse nadando. 
E essa situação ainda não teve fim. Já se passaram vários anos e o sapo com aquele escorpião nas costas continua nadando para lá e para cá no meio do rio. Um não pode chegar a outra margem por que vai levar uma nova ferroada e outro não pode acabar de vez com o seu "amigo" por que se afoga logo em seguida.
Se alguém chegar no tal rio, que se chama "Chipió", e olhar a cena, de longe terá uma surpresa e de perto tomará um susto... Passados muitos anos, ficou difícil saber quem é o sapo e quem é o escorpião. O primeiro ficou com a pele toda gretada e escura, sendo que encontra-se viciado no veneno do escorpião. E este último, cobriu-se de musgo, ficando bastante esverdeado e se acostumou completamente a uma dieta de moscas e mosquitos, que são as únicas coisas que consegue pegar no meio do rio. 
E é assim que as coisas às vezes acontecem, pois em política "a distância mais curta entre dois pontos é uma espiral"...

Por: Carlos Dittz
Outubro, 2014



A Revolução dos Ratos





Na foz do rio Chipió existe uma grande ilha fluvial, que como tudo mais daquelas lonjuras não tem nome. Na ilha durante muito tempo só viviam alguns passarinhos, umas poucas cobras e muitos ratos. 
Dizem que a vida na ilha era boa. As cobras eram poucas e só comiam uma vez por semana, enquanto que os passarinhos e os ratos, como havia abundância de sementes, se entendiam muito bem.
Mas, como aquele rio de vez em quando sofre uma enchente das boas, chegou à ilha, flutuando num toco meio apodrecido, um casal de gatos mortos de medo.
 
Como eles não conheciam o lugar, no início procuraram se ambientar e não se meteram com ninguém. Eles pegavam alguns peixes e passavam o tempo todo fugindo das cobras, com a ajuda dos passarinhos, que sempre davam o alerta quando elas se aproximavam.
 
Devido a isso, os gatos fizeram um favor aos passarinhos pegando um gavião que perturbava a vida do pessoal e uma coruja, que era um inferno para os ratos.
 
Os gatos perceberam logo que podiam junto com os passarinhos e os ratos acabar com as cobras. Para fazer isso, bastava que fugissem sempre delas , de modo que não tendo o que comer e sabendo nadar, elas terminariam se mandando para outro lugar. Todos aceitaram a ideia e não demorou muito para que a ilha ficasse livre de ofídios.
Tudo ia muito bem até que a fome e a natureza levou os gatos, já sem inimigos, no topo da cadeia alimentar da ilha, a se fartarem de ratos e passarinhos.
 
Para esses últimos a solução foi fácil, numa grande assembleia eles decidiram migrar para outro lugar, voando baixo para não atrair os gaviões. Isso, porém, tornou a vida dos ratos muito pior do que era antes. Os dois gatos passaram atacar o tempo todo, não dando um minuto de folga, cobrando bastante caro as poucas horas de sossego que davam para os seus antigos aliados.
 
Chegando ao cumulo do desespero, os ratos resolveram fazer uma assembleia, assim com haviam feito os passarinhos. Não foi nada fácil arranjar um lugar onde todos pudessem ir e ficar em segurança para discutir as questões. Por fim, eles conseguiram se reunir numa das tocas que as cobras haviam abandonado.
 
A assembleia estava bastante cheia e todos queriam falar. A lista de inscritos para avaliação era imensa e o debate não progredia devido as constantes "questões de ordem" que eram levantadas. Contudo, apesar de todas as dificuldades a discussão chegou a suas segunda etapa e a presidente da mesa, uma ratinha velha muito esperta, pode anunciar com certa satisfação que aqueles que iriam fazer propostas se apresentassem.
Aí, o silêncio foi geral... Ninguém tinha nada para propor. Todos sabiam do problema e da traição dos gatos, todos já haviam sofrido por causa deles,mas como eles poderiam resolver a questão.
 
No meio daquele silêncio ouviu-se então uma voz. Um rato bastante esperto, bem conhecido da galera, tinha um dos braços levantados e repetia:-"Sra. presidenta, eu tenho uma proposta, que com certeza será a solução dos nossos problemas." A presidente pediu que o tal rato fosse para frente da plenária e expusesse sua ideia. O rato então falou que como eles sempre conseguiam escapar dos gatos quando percebiam a sua presença, bastava colocar um gizo nos pescoços dos bichanos para que eles notassem de longe a sua aproximação e aí fugissem com sucesso.
 
A assembleia explodiu em aplausos e todos tinham acordo com a ideia.
 
Mas, quando estava todo mundo feliz da vida, uma rato velhusco cheio de artrite pediu a palavra e perguntou quem iria fazer aquilo, quem iria arriscar a vida duas vezes daquele jeito para conseguir realizar o tal projeto que salvaria a todos. O silêncio foi, dessa vez, sepulcral... Os ratos perceberam que a situação era muito mais difícil do que eles haviam pensado. Eles poderiam fazer muitas assembleias, contudo talvez nunca encontrariam uma solução
Quando todos já começavam a empilhar as cadeiras para irem embora, um outro rato que falava com um sotaque estranho e que havia chegado há pouco tempo à ilha, flutuando numa tabua onde estava escrito "Cantina do Nino - rodízio de massa doida", pediu a palavra e disse que tinha outra solução. Todos, apesar de bastante incrédulos, param paraouvi-lo e ele começou: -"Eco, os gati e os rati já furom amicci. Intaon pudem ser di nuovo. Basta parlare com el e oferecere algo pela pacce."
 
A plenária titubeou, duvidou, mas por fim aceitou explodindo em aplausos outra vez. A proposta venceu por aclamação e logo começaram a organizar a comissão que iria, com toda segurança,negociar já com os gatos. Ouviu-se até, dessa vez, um gritos de "vitória" na plenária e alguns chegaram a chorar de felicidade, enquanto que o tal rato era carregado nos ombros pela multidão.
No meio daquela euforia ouviu-se, então, um voz rouca e distante que vinha lá do fundo das arquibancadas. Um rato velho, já encurvado pela idade, com cabelos ralos e barbicha muito branca pediu apalavra e foi a frente da plenária e começou a falar: - "Vocês estão malucos! Negociar com os gatos! Eles só aceitarão o acordo se nós passáramos a entregar para os bichanos um dos nossos todos os dias. Eles tem que comer a gente para ficar vivos e, portanto, não vão aceitar outra coisa."
 
O silêncio tomou conta outra vez da assembleia e alguns ratos caíram em prantos. Mas o rato velho prosseguiu: - "Nós temos é que matar os gatos, acabar com eles de vez. Nós somos fracos e mesmo juntos não damos conta do recado numa luta direta. Parece impossível, mas nós podemos cavar armadilhas, atraí-los para elas e assim que eles caírem lá dentro nós os enterramos vivos e nos livramos deles para sempre."
 
Dessa vez não ouve aplausos e muitos discordaram. A discussão se estendeu por dias e dias, até que, por fim, decidiram botar em prática o tal plano. Após semanas de trabalho árduo os ratos construíram as armadilhas e com bastante coragem e ousadia conseguiram atrair os gatos para elas e joga-los lá dentro, acabando com eles.
 
Quando o plano deu certo, porém, o tal rato velho que havia proposto a ideia já estava morto e como muitos tinham perdido a vida na luta para levar os gatos para as armadilhas, houve muita tristeza e lágrimas no dia espetacular de comemoração da vitória final.
 
A vida na ilha, dizem os outros bicho que já estivem no lugar, não é nenhum paraíso, existem grandes dificuldades e o pessoal precisa dividir tudo com muito cuidado senão vai faltar para alguém. Mas todos são unanimes em dizer que na ilha dos ratos, gato não manda...

Por: Carlos Dittz
Outubro, 2014



Por que não votar nem no PT e nem no PSDB





Privatização Vale do Rio Doce, governo PSDB- 1995

Privatização Campo de Libras-Pré Sal, governo PT,2013

Estamos num momento bem crítico da política brasileira. Há quem queira se enganar que o PT é melhor que o PSDB. Há quem queira se livrar (e com toda razão) do PT, e há quem não quer nem o seis e nem o meia dúzia. Essa pessoa sou eu!
FHC (PSDB)- 1994/2002
Conivência com a corrupção com o amordaçamento da PF(Políca Federal);
Quebra do monopólio d Petrobrás;
Escândalo Silvan;
Proer, Programa de salvação aos bancos;
Caixa 2 de campanha;
Massacre El Dorado Carajás (PA) e Corumbiará(RO);
Propina nas Privatizações: Telebrás e Vale do Rio Doce( O PT do Lula/Dilma,tinha o dossiê de todos os ganhos “extras” e se calou para não aborrecer as empresas envolvidas);
45 milhões em corrupção para comprar o congresso para aprovar a emenda da reeleição à constituição;
Grampos telefônicos para facilitar a privatização da  Telecomunicações;
Desvio de 169 milhões para a construção do TRT paulista (juiz Nicolau, lembram dele?);
Privatização das estradas federais (completamente esburacadas no governo PT);
Escândalo abafado e amordaçado pela PF de informações privilegiadas na privatização da Vale do Rio Doce, com grande repressão a nós que estávamos nas manifestações contra a privatização(eu estava lá e apanhei da PM);
Pane na telefonia em 1999,quando o novo sistema,  já privatizado entrou em ação, no sistema de DDD foi implantado;
Racionamento de energia, pelo sucateamento de Furnas e vários blecautes nos anos de 2000 e 2001(eu trabalhava à noite e saia ás 9h, o que dava um tempo de aula para cada turma do noturno);
Base Militar para  beneficiar os norte americanos a “sufocar” o tráfico de drogas na Amazônia;
Biopirataria oficial dos laboratórios norte americanos na Amazônia. 4 milhões em biopirataria que o Brasil e a Floresta perderam;
Desmatamento da Amazônia, para gerar lucro ao grande latifúndio;
Mudança na CLT, achatando as aposentadorias (aposentado é vagabundo segundo FHC),aumento do tempo de serviço,esvaziamento dos sindicatos, professores são  burros e não querem trabalhar;
Dívida externa (que o PT falou que pagou e sabemos que é mentira), entrega da soberania do país ao FMI.

LULA ( PT)2002/2010
Corrupção envolvendo a alta cúpula do governo;
Não avançou no crescimento econômico na América Latina;
Fome zero foi um fiasco e virou Bolsa Família (ou Bolsa Esmola que fez do eleitorado refém do governo PT, claramente copiado do governo FHC);
Gastou mais com publicidade do que com saneamento básico no nordeste;
Nenhum investimento no transporte público/estradas esburacadas e perigosas(as mesmas privatizadas pelo FHC);
Licitação fraudulentas para tapar os buracos das estradas nas rodovias federais, abandonadas pelo PT e privatizadas pelo PSDB;
Salário mínimo continuou mínimo MESMO;
Não sabia nada nos assuntos de corrupção das ambulâncias e mensalão;
Os dez mil empregos nunca foram criados;
Filhos e parentes (Nepotismo),ganharam benesses governamentais(Friboi e nosso primeiro mini moldem que não rodava nem pelo decreto,  num lap top superfaturado num esquema PT/PMDB lembram???);
Tenta criar a ANCINAV (empresa reguladora das atividades audiovisuais, que não passou) e que visava amordaçar a imprensa alternativa. Hj, claramente perseguida pelo governo Dilma (vide mídia ativistas).

Dilma (PT) 2010 e quem sabe 2018(tomara que não)
Taxa de juros e inflação batendo no nosso nariz (se vc vai ao supermercado,paga luz,água,e outros serviços sabe disso melhor que eu);
Reservas internacionais na mão dos “internacionais”;
Escândalo na Petrobrás, programa de PDV (Demissão Voluntária), e nenhum concurso desde 1990(Era Collor);
Avanço do latifúndio sobre áreas indígenas/floretas/assassinato de trabalhadores rurais/ameaça nas terras dos Guaranis Kaiovas(MT);
Construção superfaturadas de Belo Monte/impacto irreversível ambiental/deslocamento de tribos indígenas/ameaça aos índios do Alto Xingú/corrupção do  faturamento das obras;
Reserva Raposo Terra do Sol(bancada por campanhas via redes sociais e muita porrada);
Desvio do curso do rio São Francisco, causando sua morte na nascente, e que reflexo para  todos quedependem  do Velho Chico  para sobreviver;
Corrupção na Petrobrás/escândalo Passadina/privatização branca na Petrobrás,Banco do Brasil, Caixa Econômica e universidades federais);
Desmonte das Universidades Federais/corte de verba para pesquisas/sucateamento das UFFederais em todo país;
Criminalização das manifestações;
Alianças nefastas com o PMDB a nível nacional...Cabral/Paes/Dilma/Sinistro Fux  X Professores...bombardeio dia 01.10.13 para passar o PCCS, que destrói a educação no RJ;
Militarização nas favelas e extermínio da juventude negra no país inteiro.


Para Garantir a  aprovação do PCCRS greve da educação X aliança PT/PMDB


Pra garantir a Copa , aliança PT/PMDB,2014,
/.
Sem mais,
Denise Oliveira...Não vai ter VOTO PORRA NENHUMA!
Outubro de 2014.















domingo, 7 de setembro de 2014

Grito dos Excluídos, 2014






Hoje, 07 de setembro de 2014, completa-se um ano do maior Grito dos excluídos já vividos nestes 20 anos de manifestação. O ano de 2013, foi atípico. Estávamos em pleno ascenso das manifestações, cobrando muito do governo e dos gastos com a Copa do Mundo. Pois bem, a resposta foi rápida, e com muita repressão, a população, que tem pouco esclarecimento político, se afastou das ruas, calou-se.
Fevereiro deste ano, um erro de cálculo e o cinegrafista da Rede Bandeirantes foi  morto. Não  por que a intenção fosse matar, mas sim resistir a truculência policial. Toda mídia formal, mas a (in)justiça e  o governo, jogaram a criminalização desse episódio lamentável, na  conta dos “baderneiros”. O refluxo do movimento está dado.
Entre maio e julho, várias greves pipocaram no país inteiro, inclusive, a primeira greve unificada das redes estadual e municipal de educação. Todas, as greves foram vendidas, pelos sindicatos aparelhados, pelo PT e seus asseclas: PSTU,PSOL,PCB e PCdB. Greves derrotadas, movimento das classes populares criminalizados, prisões políticas á véspera da final da Copa. Das prisões de vários amigos, temos hoje, esses companheiros impedidos de participarem de manifestações, como se reclamar do que está errado fosse crime inafiançável
Pois bem, foi nesse cenário de refluxo, que se deu mais um 07 de setembro. De um lado a hipocrisia nacionalista com o desfile das Forças(enferrujadas e  mal) Armadas, de outro nos, os excluídos. Esse ano também, é ano de eleições gerais, o que dá um tom, mas abrilhantado a essa parafernália, que o estado burguês, chama de civismo.
Não repetimos a grande massa do ano passado, segundo a estimativa da PM, éramos 1.200 mil pessoas, o qeu pra mim, já gente pra caramba, visto o refluxo eu estamos vivendo. O dado novo imposto á passeata, foi a divisão, que os partidos PSTU,PSOL e PCB, impuseram. Não queriam ficar próximos a FIP, GEP, OATL e outros grupos que não querem mais saber de voto, que estão direto nas ruas, e que até por isso mesmo, são os mais visados e perseguidos. Incrível, mas teve duas passeatas numa só. Ridículo, ver nós à frente, uma linha enorme de policiais, e eles atrás desse “cordão de isolamento”.
Chegando à Central, palco do maior bombardeio de lacrimogêneo que já vi acontecer, em 2013, um grupo ligado à FIP,  pôs fogo na “bandeira Nacional”. Dado aí, a chance dos meganhas entrarem em ação. Não houve uso de lacrimogêneo, mas empurra-empurra, prisão, xingamentos de ambas as partes. A tropa de choque, barrou a passeata.
Novo momento ridículo: ver o PSOL e PCB saírem correndo do ato, tão logo se deu esse princípio de confusão. Em menos de três segundos, não haviam mais nenhuma bandeira amarela e vermelha no ar. Aliás, só pudemos sair com as bandeiras, faixas e cartazes, depois de muita negociação com as forças de repressão. Ficou meia dúzia de PSTU, com a candidata deles a Dayse(que nem  nas pesquisas de intenção de voto aparece), com aquele discursinho meia bomba, sacudindo os braços como uma boa pelega, que é. Reparem bem, que não falei em momento nenhum do PT,CUT e MST. É eles não estavam na passeata!
Nesse momento eu saí do ato, afinal, ouvir PSTU não estava nos meus planos... Soube, já no metrô, que a passeata seguiu até o destino final, a estátua do Zumbi.
É fato, que não vou votar em nenhum partido. É fato também, que alguns companheiros de rua e de luta, estão meio aborrecidos com a minha postura, de não me sentir representada por esses borra botas partideiros.
Mas hoje, se havia alguma dúvida em mim, sobre usar esse espaço frouxo, burguês, de nenhuma representatividade à nossa luta (coisa que não havia), acabou de vez.
Não vai ter voto/ Não pode haver voto em partidos tão vendidos aos interesses da burguesia, e incluo aí o PCB, que pra mim, sempre foi um partideco que trava as lutas, vide Grécia, Espanha, Portugal, Galícia, recentemente, e no Brasil sempre...e no magistério carioca há menos de 3 meses.
Não Vai Ter Voto, Vai Ter LUTA!

Por:Denise Oliveira, 07/09/2014



domingo, 13 de julho de 2014

Palestina/Israel,uma coexistência impossível

Ataque à Gaza com Bombas de Fósforo pelo Exército de Israellçju


Para entender o conflito permanente entre o Estado fortemente armado de Israel, contra  foguetes artesanais da Palestina, precisamos entender como foi desenhada a configuração da coexistência entre as duas nações. Por mais que a ONU não reconheça, a Palestina é uma nação. E, mais do que sempre, é necessário o reconhecimento, e a delimitação do Estado da Palestina.
Um histórico
A região que hoje abriga o Estado de Israel era habitada pelos povos árabes desde a Antiguidade. Por conta das várias Diásporas do povo israelita, causada pelas perseguições e escravidão imposta no período do Império Romano, essa região foi sendo  efetivamente ocupada pelos muçulmanos.
Os judeus se tonaram um povo de comerciantes desde a destruição do Segundo Templo, em 70 d. C. O cristianismo já nasceu fazendo polêmicas religiosas contra a religião judaica, mas esse antijudaísmo só virou o que conhecemos hoje como antissemitismo depois no final do século XIX, quando o motivo da perseguição deixou de ser religioso e se tornou étnico.
Durante toda a Idade Média, os judeus foram perseguidos, tanto por motivos econômicos (as riquezas que eles conseguiam através do comércio), como por motivos religiosos, porque a própria existência desse povo colocava em dúvida os dogmas da Igreja sobre o Antigo Testamento ter sido abolido e Jesus ser o Messias.
Com a formação dos Estados modernos, as monarquias usaram da perseguição religiosa para se apoderar dos bens dos judeus, como aconteceu através da Inquisição em Portugal e na Espanha.
Sem mudar a situação de marginalização, no século XVIII surge o movimento de reforma no judaísmo, muito influenciado pelos ideais iluministas, com o objetivo de que os judeus fossem assimilados nas sociedades europeias. No século XIX, a maioria dos judeus concentrava-se no Leste Europeu e dedicavam se ao comércio e ao empréstimo de dinheiro a juros. Com o desenvolvimento das burguesias nacionais e da Revolução Industrial, no entanto, os judeus foram responsabilizados pelo desemprego em massa e pela concorrência com as classes dominantes. A partir daí, foram confinados a guetos, sofreram várias perseguições e massacres. O resultado disso foi a emigração para a Europa Ocidental. Durante todo o século XIX, houve uma assimilação crescente dos judeus, e entre os judeus da classe trabalhadora, essa assimilação era ligada à participação no movimento socialista.
O sionismo surgiu no final do século XIX, por causa da contradição colocada à tentativa de assimilação pelas ondas periódicas de antissemitismo. Foi neste cenário que o jornalista judeu Theodor Herzl, em 1896, criou o movimento sionista, cujo objetivo era estabelecer um lar judeu na Palestina. Este povo começou a colonizar o país em 1897, ano da fundação da Organização Sionista Mundial. O objetivo do sionismo, o retorno dos judeus a Sião (Jerusalém), era uma aspiração de uma pequena minoria dos judeus.
Vale ressaltar  que Herzl, era portador de ideias racistas, próprias do seu tempo, aonde o etnocentrismo vigorava a pleno vapor, e ele investiu na emigração de judeus para à Palestina , iria civilizar a região, pois acreditava se  que o povo árabe era atrasado cultural e socialmente.
Sem apoio popular suficiente, os sionistas vão buscar ajuda nos governos imperialistas. Durante a Primeira Guerra Mundial, em que o Reino Unido lutou contra o Império Otomano, o secretário de Assuntos Estrangeiros Arthur James Balfour, num documento que se tornou conhecido como Declaração de Balfour, de 1917, prometeu aos judeus o território da Palestina se o Império Otomano fosse derrotado. Quando isso aconteceu, a Palestina se tornou um Mandado britânico.
Durante o período entre guerras, e mais profundamente na década de 1930, e durante toda II Guerra, o movimento sionista colaborou com os nazistas, forçando a ida de judeus deportados, para a Palestina, a fim de ocupar a área. O que era muito bom, tanto para os nazistas que queriam se livrar da concorrência  judaica na economia, quanto para os sionistas, que queriam ocupar uma das partes mais disputadas economicamente pelo capitalismo.
A partir do fim da guerra, houve um aumento da imigração de judeus para a Palestina, mas, até a década de 1930, eles ainda eram uma minoria (como foram durante séculos). A Liga das Nações (organização criada ao final da I Guerra Mundial, e antecessora da ONU), declarou a região da Palestina como Mandato Britânico, com obrigação de conciliar os grupos árabes e judeus. Entre 1917-1938, incentivados pelo Lorde Balfour, milhares de judeus foram para a Palestina, compraram terras e se estabeleceram em núcleos cada vez maiores. Neste período, começaram os choques entre judeus e árabes, que assistiam os judeus conquistarem boa parte das terras boas para o cultivo.
Os judeus criaram um exército clandestino (Haganah) para proteger suas terras e, à medida que crescia a emigração judaica para a Palestina, aumentavam os conflitos. Durante a 2ª Guerra Mundial - em função da perseguição alemã e do Holocausto -, a emigração judaica para a região aumentou vertiginosamente e a tensão chegou a níveis insuportáveis: os britânicos, na época, tomaram partido dos Aliados e os árabes, do Eixo.
Em 1936, quando os judeus já constituíam 34% da população na Palestina, estourou a primeira revolta árabe. Bases e instalações inglesas foram atacadas e judeus foram assassinados. A Inglaterra esmagou a rebelião e armou 14 mil colonos judeus para que pudessem defender suas colônias.
Pouco tempo depois, a Grã-Bretanha tentou controlar a emigração judaica para a área e, desta vez, os judeus atacaram os ingleses. Em 1946, o quartel-general dos britânicos foi dinamitado e 91 pessoas morreram.
Em 1947, os Aliados, incluindo a União Soviética, votaram na ONU pela repartição da Palestina e pela formação do Estado de Israel. A perseguição e extermínio em massa dos judeus na Europa, reforçou, ao fim da Guerra, a criação de um estado que protegesse o povo judeu. Imediatamente, os governos árabes da região tentaram impedir militarmente a independência. Israel, com o apoio imperialista, conseguiu se estabelecer através de uma resposta violentíssima, inclusive com a expulsão de vilarejos inteiros da população árabe, na guerra de 1948. Esse acontecimento é chamado pelos povos árabes de Nakba (Catástrofe). Desde então, uma das reivindicações do povo palestino é o direito de retorno às terras que eles ocupavam antes. A outra parte do território Palestino é dividida entre o Egito (Gaza) e a Jordânia (Cisjordânia).
Durante os anos de Guerra Fria, o Estado de Israel, foi de suma importância para a manutenção dos interesses do bloco capitalista no Oriente Médio. Portanto, receberá um apoio bélico dos mais modernos advindos dos EUA, principal parceiro de Israel na região. Com a promoção de vários conflitos e alargando seus domínios sobre os países árabes, Israel vai tomando um corpo muito maior, tanto pelo crescimento populacional, como o fortalecimento bélico:
Guerra de Suez, Egito X Israel, 1956: conflito gerado pela nacionalização do Canal de Suez e o fechamento do Porto de Eilat, que prejudicava a economia do Egito.
Os palestinos lutaram pela sua autodeterminação, formando em 1964 a OLP (Organização pela Libertação da Palestina), que incluía vários setores nacionalistas e socialistas, sendo os principais a Al-Fatah (A Abertura), nacionalista de esquerda, a Frente Popular pelaLibertaçãoda Palestina (FPLP), marxista-leninista, e a Frente Democrática pela Libertação da Palestina, maoísta. Desde a época, a OLP era dirigida por Yasser Arafat. A OLP defendia o fim do Estado de Israel, e o estabelecimento de um Estado Palestino democrático e laico, no território anterior à repartição. E imediatamente começou a guerra de guerrilhas contra Israel, com o apoio dos governos nacionalistas árabes.
Setores de extrema-esquerda de Israel, como o Partido Comunista Israelense, formado em 1948 a partir do antigo Partido Comunista da Palestina, e o Matzpen (Organização Socialista em Israel), marxista revolucionária, defendiam um Israel socialista e não-sionista que reconhecesse a autodeterminação do povo palestino na “outra metade” do antigo Mandato Britânico. 
Diante da pressão nacionalista, principalmente do governo de Nasser, no Egito, a resposta de Israel foi militarizar completamente a sociedade. Em 1967, as IDF (Forças de Defesa Israelenses), o Exército de Israel, fizeram uma operação-relâmpago, que ficou conhecida como Guerra dos Seis Dias, em que tomaram a outra parte do território repartido (Gaza e Cisjordânia), além da Península do Sinai e das Colinas de Golã, pertencentes respectivamente ao Egito e ao Líbano.
Nos anos 1970, o Egito e a Síria fazem um ataque surpresa nas regiões invadidas em 1967, durante o feriado judaico do Yom Kippur (o Dia do Perdão). A Guerra do Yom Kippur mostrou que a supremacia militar israelense não era absoluta. Na mesma década, a OLP é aceita na ONU como legítima representante do povo palestino, e os países produtores de petróleo, organizados na OPEP, fazem um embargo aos países aliados a Israel.
Todos esses fatores levam Israel a negociar com o Egito, nos Acordos de Campo David, em 1978, em que Israel devolve a Península de Sinai ao Egito. É a primeira vez que um país árabe reconhece Israel.

Em 1982, Israel intervém na guerra civil libanesa, para debilitar as forças palestinas que estavam baseadas na região. Acontece o Massacre de Sabra e Chatila, um ataque ao campo de refugiados palestinos pelas tropas israelitas no sul do Líbano, que resultou no extermínio de milhares de pessoas.
Primeira Intifada (Rebelião), 1987: rebelião que explodiu na Faixa de Gaza e Cisjordânia, após o atropelamento de quatro palestinos por um caminhão israelense. Os palestinos atacaram o Exército de Israel com paus e pedras. A resistência acaba forçando uma rodada de negociação entre Israel e OLP. A OLP, na mesma época, passa a defender a política de Dois Estados, ou seja, reconhece a existência do Estado de Israel, mas reivindica um Estado Palestino formado pela Cisjordânia e por Gaza.
Nos acordos de Oslo, em 1993, em contra partida, são iniciadas as conversações para o reconhecimento da Palestina. O primeiro passo é a criação da Autoridade Nacional Palestina, criada em 1994, como primeiro passo para o novo Estado. O primeiro-ministro israelense Yitzak Rabin foi assassinado em 1995 por um israelense de extrema-direita contrário ao processo de paz. Isso levou a situação novamente a se estagnar.
A Segunda Intifada começou em 2000, e foi o resultado da frustração com a paralisação das negociações de paz. Nesse período, a política israelense se torna mais dura ainda, com a construção do Muro separando Israel e Palestina. Desde então, a situação de tensão permanente se estabeleceu na região, e periodicamente acontecem crises como a atual.
Século XXI, e o impasse continua
Durante a Primeira Intifada em 1987, nasce o Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), fundado pelos xeques Ahmed Yassin, Abdel Aziz al-Rantissi e Mohammad Taha, com orientação sunita, da ala palestina da Irmandade Muçulmana do Egito. O braço político e beneficente da Irmandade Muçulmana é então reconhecido oficialmente por Israel. O grupo se concentrava na ajuda social e em projetos religiosos, com uma intensa ação social e comunitária. Não podemos negar que o Hamas é um movimento fundamentalista Islâmico, e que, dentro do seu entendimento político, as ações terroristas e de extremismo religioso também são válidas.
Nas eleições de 2006, o Hamas chega ao poder, derrotando o Fatah (grupo político majoritário da OLP), que tem uma aberta aceitação norte-americana e israelese). Desde a vitória do Hamas, os conflitos acirram: O Hamas se conflita com o Fatah, e preconiza a luta armada e a destruição do Estado de Israel.
No início de junho, três jovens estudantes judeus, são sequestrados e mortos.  O governo israelense atribui o crime a integrantes do Hamas, em resposta á morte de um adolescente palestino causada por extremistas judeus. Até agora, não existe nenhuma prova que aponte os autores dos assassinatos. Esse foi o estopim para o que vemos há uma semana, ataques totalmente desproporcionais que o Exército de Israel tem imposto a Gaza, em sua maioria, atacando a população civil, com mais de 70 mortos até o momento, incluindo mulheres e crianças.


Por: Rodrigo do Ó e Denise Oliveira, julho/2014