terça-feira, 8 de novembro de 2011

BRASIL:Processo de Redemocratização 1979/2002

Greve setor ótico/vidreiro-1989
Neste artigo mais do que informação político-histórico, farei uma breve biografia dos anos que vivi intensamente. Período este que se inicia com os meus 15 e se estende até os 39 anos. Portanto, vivi todos os acontecimentos com intensidade que qualquer jovem viveria, se fosse dado aos jovens de hoje, a oportunidade de viver momentos de mudanças tão profundas na História do seu próprio país, como nos foi naquela louca década de 1980.
1979: O ano das transformações
Chegava eu ao Ensino Médio. Recém aprovada para cursar o antigo científico no Colégio Estadual Visconde de Cairú. Saía de perto de casa pela primeira vez, já que a escola era longe e tinha que pegar ônibus. Para quem passou dos 6 aos 14 anos à apenas duas quadras de casa, era uma mudança profunda.Mas as mudanças não pararam por aí. O Cairú , assim como o Pedro II, eram colégios de ponta da época, garotada informada, politizada, classe média. E eu ali no meio desse burburinho.
Sabia que vivíamos num período de exceção, a Ditadura Militar e o AI5, extinto um ano antes pelo Gen.Geisel, presidente da época. De diferente, somente os homens de terno preto, que tantas vezes vi percorrerem a minha escola Municipal em Irajá, já não mais visitavam escolas ou perguntavam sobre professores. Engano meu. De diferente estava o país inteiro!
A crise econômica mundial e o preço do petróleo, agora protegido pela OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo), cada mais mas altos, expunham o pesadelo que havia se tornado o milagre econômico dos anos de Chumbo. Geisel anuncia a abertura política lenta, gradual e segura. A oposição política começa a ganhar espaço. Nas eleições de 1974, o MDB conquistara 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e ganha a prefeitura da maioria das grandes cidades. Os militares de linha dura, não contentes com os caminhos do governo Geisel, começam a promover ataques clandestinos aos membros da esquerda. Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog á assassinado nas dependências do DOI-CODI em São Paulo. Em janeiro de 1976, o operário Manuel Fiel Filho aparece morto em situação semelhante. O governo Geisel não tinha como sustentar as prisões arbitrárias, sumiço de pessoas, invasão aos domicílios sem ter o que ofertar de grande para a população. É hora de distender!
No colégio as aulas de Moral e Cívica (essa disciplina havia substituído História,Sociologia e Filosofia- proibidas pelo AI5 de serem ministradas, já que para a repressão, essas disciplinas criavam subversivos), nos davam uma visão clara do momento que o país atravessava. 
O governo falava em abertura, mais ao mesmo tempo aplicava o Pacote de Abril, uma série de medidas adotadas em 1977, que estavam em vigor em 1979. Eram as seguintes:
“O Pacote de Abril foi um conjunto de leis outorgado em 13 de abril de 1977,pelo então Presidente da República do Brasil, Ernesto Geisel que dentre outras medidas fechou temporariamente o Congresso Nacional. A imprensa chamou este conjunto de leis de Pacote de Abril. As alterações na constituição foram feitas pelo que se denominou "a constituinte do Alvorada.
Este pacote constituía de uma emenda constitucional e de seis decretos-leis que uma vez outorgados alteravam as futuras eleições. Para o pleito de 1978 seriam renovados dois terços do Senado, porém o temor do governo quanto a um novo revés como em 1974 quando perdeu na maioria dos estados, fez com que uma nova regra garantisse a maioria governista na Câmara Alta do país: metade das vagas em disputa seria preenchida pelo voto indireto do Colégio Eleitoral cuja composição comportava os membros da Assembleia Legislativa e delegados das Câmaras Municipais. Assim, um terço dos senadores não foram sufragados pelo voto direto e sim referendados após uma indicação do presidente da República, os chamados senadores biônicos. Esta medida visava garantir aos militares uma maior bancada no Congresso Nacional. O "pacote" também estabelecia a extensão do mandato presidencial de cinco para seis anos, a manutenção de eleições indiretas para governador e o aumento da representação dos estados menos populosos no Congresso Nacional.
Estes senadores foram apelidados de senadores biônicos numa alusão a uma série da televisão exibida à época pela Rede Bandeirantes chamada O Homem de Seis Milhões de Dólares ou também chamado O Homem Biônico.
Em São Paulo, por exemplo, a ARENA escolheu Amaral Furlan via Colégio Eleitoral em 1º de setembro ao passo que o MDB reelegeu Franco Montoro em 15 de novembro. Durante o referido processo eleitoral a única exceção à regra aqui descrita ocorreu em Mato Grosso do Sul, estado recém-criado, onde três eram as vagas em disputa: Saldanha Derzi foi eleito na condição de biônico ao passo que Pedro Pedrossian e Vicente Vuolo foram escolhidos pelo voto popular, cabendo a este último um mandato de apenas quatro anos, todos pertencendo à ARENA.
O pacote também alterou o quórum para aprovação de emendas constitucionais, que passou de dois terços para maioria absoluta (a ARENA, desde as eleições de 1974, não possuía dois terços em ambas as casas do Congresso, mas mantinha a maioria absoluta).” 1
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1.Pacote de Abril- Conjunto de medidas que mantinha o poder dos militares, frente aos avanços democráticos das eleições de 1974.


Cartaz de Propaganda da Anistia/1979



Foi nessa atmosfera contraditória, que se iniciou a campanha da Anistia:lenta, gradual e segura. Naquele momento, não entendia por que segura? Hoje tenho claro, que se o modelo adotado fosse o de punir os assassinos e torturadores, seria muito mais complexo, e num país aonde a justiça nunca foi feita de forma ampla, seria uma temeridade ver nomes do nosso cenário político tanto daquela época como hoje ainda, sendo julgados por crime de tortura, e assassinato.
O que eu lembro perfeitamente foram as músicas que antes eram proibidas de tocarem nas rádios, agora podíamos cantá-las à vontade, tais como: O Bêbado e a Equilibrista, Chão de Giz, Novo Tempo, Vida de Gado,Apesar de Você, Pra não dizer que não falei de flores, Sabiá..entre tantas outras que ouvíamos na Rádio Cidade (102,9), a rádio jovem! Aliás a Rádio Cidade, do grupo JB, era a coqueluche da época. Seu jeito novo de apresentar músicas, a troca de locutores com bate papos entre eles, fazia desta rádio o diferencial no dial do Rio de Janeiro.
“Cidade, Sempre Cidade” ou “1.0.2.9..Pra cima, pro alto Sempre...Cidade!


Adesivo da Rádio Cidade
Nos telejornais, o mais visto na época era o Jornal Nacional, apresentado pelo Cid Moreira e Sergio Chapellin, as imagens dos brasileiros voltando à sua pátria. O sorriso e a felicidade de cada um ao desembarcar nos aviões da VASP e VARIG, nos aeroportos do Galeão (RJ), Guarulhos (SP), Pampulha (MG) e Salgado Filho (RS). Nossa! Como voltavam brasileiros com 10/15/18 anos fora, não por opção mais por pressão de um regime cuja marca era: Brasil:Ame-o ou Deixe-o. Convertido por nós jovens brincalhões em Brasil: Mame-o ou Deixe-o.
1980/1981: O Ano Bomba
ABI-Associação Brasileira de Imprensa
Chegamos ao ano de 1980, eu e meus 16 anos, segundo ano do Ensino Médio, já não era mais caloura no Cairú. Na verdade em poucos meses eu já conhecia todos no colégio, no segundo turno é claro, já estava discutindo com o pessoal da ANES (Associação Nacional dos Estudantes Secundaristas), hoje conhecida como UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). Na ANES, o grupo forte era o Convergência Socialista, que ainda não estava dentro do PT. O PT ainda estava em construção. Com eles conheci o camarada Trotsky e sua ideia de Revolução Permanente. Não apoiava a visão Stalinista do pessoal do MR8 e PCdoB. Nos encontros a “porrada” literalmente estancava. Os caras eram reformistas...a História provou a verdade, já que hoje Lidenberg Farias, senador pelo PT, responde a inúmeros processos de falcatruas ocorridas em seu governo à frente da prefeitura de Nova Iguaçu.
Os militares linha-dura, não se conformavam com tantas mudanças, e tentaram atrapalhar o processo de democratização brasileiro através de atentados. Antes entre 1975 e 1976, por força do AI5, mataram sob tortura o jornalista Wladimir Herzog e o metalúrgico Manoel Fiel Filho, agora sem o AI5, DOI-CODI e SNI a onda era bombardear.
Em 1979, o gen. João Batista Figueiredo sucedeu o gen. Ernesto Geisel na Presidência da República.
Figueiredo se comprometera com o antecessor a dar continuidade ao processo de abertura que este havia iniciado. No entanto toda a carreira de Figueiredo estava ligada à chamada "comunidade de informações", formada por organizações como o CIE, SNI e DOI-Codi, responsável direta pela repressão às atividades da esquerda. Então mesmo disposto a prosseguir com a abertura do regime, o gen. Figueiredo não pretendia entrar em atrito com os serviços de informação, principalmente o CIE, cujos integrantes estavam irritados com os rumos políticos do governo. Como muitos deles haviam sido responsáveis por centenas de casos de tortura e desaparecimento, temiam ser humilhados e punidos, caso o regime se desfizesse.
O fim da ditadura poderia, enfim, representar o fim da comunidade de informações e seus membros receavam o possível revanchismo por parte da oposição, caso esta assumisse o poder. Por isso para estes órgãos era interessante que a esquerda se envolvesse na luta armada, de modo a justificar mais repressão política. Mas, no fim da década de 1970, a esquerda já havia abandonado a guerrilha e o grande núcleo de oposição ao governo era o PCB, que nunca aderiu à luta armada.
Na falta de um perigo real, as alas radicais da ditadura estavam dispostas a "fabricar" ameaças para justificar uma volta à repressão mais violenta, tal como fora no governo Médici, e assim, dar maior importância dos órgãos de segurança.
Em 1976, esse atifício de plantar bombas para culpar a esquerda e com isso enfraquecer a abertura já havia acontecido. Em um momento em que o Brasil estava prestes a entrar no processo de redemocratização, promovido pelo governo Geisel, um grupo rebelde conservador tentou ameaçar a iniciativa por meio de terrorismo. No dia 19 de agosto, explodiu uma bomba plantada no banheiro do sétimo andar do prédio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Centro do Rio de Janeiro. Horas mais tarde, outra bomba foi encontrada pelas autoridades, desta vez na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tendo sido desativada a tempo. Na ABI ninguém se feriu, embora oito pessoas estivessem no andar e a explosão tenha destruído completamente dois banheiros e abalado a estrutura do prédio.
Na tarde posterior ao atentado, a Aliança Anticomunista Brasileira (AAB) distribuiu panfletos assumindo a autoria dos atentados – os primeiros de uma série que ainda estariam por acontecer naquele ano.
“Chegou a hora de começar a escalada contra a nova tentativa de comunização do Brasil que está em marcha. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), totalmente dominada pelos comunistas, foi escolhida para esta primeira advertência. De agora em diante tomem cuidado, seus lacaios de Moscou. Não daremos trégua. Já que as autoridades recolhem-se covardemente, passaremos a agir. Morte à canalha comunista! Viva o Brasil.”2  vinha escrito no panfleto cunhado pelo grupo clandestino. Em setembro do mesmo ano, a AAB seqüestrou o bispo dom Adriano Hipólito, espancando-o e abandonando-o nu e com o corpo todo pintado, num terreno baldio, na zona Oeste da capital fluminense.
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2. Dossiê sobre os motivos que levaram o grupo linha dura a plantar a bomba na ABI.


Bomba na ABI
                                                 
OAB- Ordem dos Advogados do Brasil
Em 1980, com a implementação da redemocratização, novos atentados a bomba voltaram a acontecer. Três anos depois, um culpado foi identificado e preso, porém oito meses depois foi absolvido pela justiça Militar.
Em 28 de agosto, junto a correspondência normal, segui-se uma carta-bomba.
A secretária da OAB, Lidia Monteiro da Silva, seguiu normalmente a rotina e abriu as correspondências do dia, para encaminhá-las a quem de direito. Aquela carta lhe custou a vida. A bomba explodiu destruindo a sala da secretária e matando-a na hora.
Bomba da OAB que vitimou a secretaria Lídia Monteiro













RIOCENTRO-Show de Música Popular em festejos ao Feriado do Trabalhador

Cartaz de Propaganda para o show no Riocentro
O carro que carregava a bomba - um Puma cinza-metálico - fora visto na tarde daquele mesmo dia no restaurante Cabana da Serra, que ficava num ponto isolado da estrada Grajaú-Jacarepaguá, parado junto a outros seis carros. Desses carros desceram cerca de quinze homens, que usaram uma mesa do restaurante para examinar um grande mapa. Depois de perceber que vários dos homens carregavam armas na cintura, um dos funcionários resolveu ligar para a polícia. Uma viatura atendeu o chamado mas, dada a superioridade numérica dos homens, limitou-se a anotar as placas enquanto pedia reforços. Mas os carros abandonaram o local antes que outros policiais chegassem.
No dia fatídico várias placas de trânsito num trajeto que leva ao Riocentro foram pichadas com a sigla VPR. Provavelmente foram os próprios envolvidos no atentado que as vandalizaram enquanto encaminhavam-se para o pavilhão. A VPR - Vanguarda Popular Revolucionária - foi um grupo de guerrilha de esquerda, mas já havia sido desmantelado em 1972, quando a maioria dos seus integrantes foi morta. As pichações foram uma tentativa de culpar militantes de esquerda pelas explosões.
O Puma levava dois passageiros, o capitão Wilson Luís Alves Machado e o sargento Guilherme Pereira do Rosário. Ambos integravam o DOI do I Exército, no Rio de Janeiro e o sargento Rosário era treinado em montagem de explosivos.
Quando o carro começou a sair da vaga onde estacionara no Riocentro, provavelmente já para plantar a bomba, o artefato explodiu antecipadamente. A explosão inflou o teto do carro e esbugalhou as portas. O sargento Rosário faleceu, enquanto que o capitão Machado sobreviveu. Ele se jogou para fora do carro e pediu para ser levado a um hospital.
Muitas pessoas se aglomeraram em volta do carro. Alguns dos espectadores, inclusive o tenente Wachulec, viram um homem retirar do interior do carro duas granadas do tipo cilíndrico usado pelo Exército Brasileiro.
A explosão não chamou a atenção do público que assistia o show dentro do Riocentro. Curiosamente, a segunda explosão, que aconteceu na caixa de força da estação elétrica, pôde ser ouvida dentro do pavilhão como um ruído abafado. Os artistas só eram avisados sobre o atentado à medida que deixavam o palco e de forma discreta. A platéia só foi informada perto do final do show, quando o compositor e cantor Gonzaguinha subiu ao palco e disse:"Pessoas contra a democracia jogaram bombas lá fora para nos amedrontar."

Bomba no Riocentro

Eu estava neste show, soubemos através do comunicado do saudoso Gonzaguinha, que haviam tentado nos matar. A saída estava confusa, só podíamos sair por dois portões, quando na verdade haviam muitos outros, mas a organização do evento e a polícia preferiram não deixar que víssemos o carro e o corpo do sargento todo arrebentado.Naquela época eu não acreditava em Deus....Hoje posso te assegurar, foi ele quem explodiu aquela bomba no colo daquele milico assassino.
1984: Movimento das Diretas Já!
A ideia de criar um movimento a favor de eleições diretas foi lançada, em 1983, pelo então senador Teotônio Vilela no programa Canal Livre da TV Bandeirantes.A primeira manifestação pública a favor de eleições diretas ocorreu no recém emancipado município de Abreu e Lima, em Pernambuco, no dia 31 de março de 1983. Organizada por membros do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) no município, a manifestação foi noticiada pelos jornais do estado. Foi seguida por manifestações em Goiânia, em 15 de junho de e em Curitiba em novembro de 1983.
Posteriormente, ocorreu também uma manifestação na Praça Charles Müller, em frente ao Estádio do Pacaembu, no dia 27 de novembro de 1983 na cidade de São Paulo. Com o crescimento do movimento, que coincidiu com o agravamento da crise econômica (em que coexistiam inflação, fechando o ano de 1983 com uma taxa de 239%, e uma profunda recessão), houve a mobilização de entidades de classe e de sindicatos. A manifestação contou com representantes de diversas correntes políticas e de pensamento, unidas pelo desejo de eleições diretas para presidente da República.
A repressão aumenta, mas o movimento pela liberdade não retrocede e os democratas intensificam as manifestações por eleições diretas. Na televisão, o gen. Figueiredo classificava como “subversivos”os protestos que começavam a acontecer em todo o país.
No ano seguinte, o movimento ganhou massa crítica e reuniu condições para se mobilizar abertamente. E foi em São Paulo que a investida democrata ganhou força com um evento realizado no Vale do Anhangabaú, no Centro da Capital, em pleno aniversário da cidade de São Paulo,em 25 de janeiro. Mais de 1,5 milhão de pessoas se reuniram para declarar apoio ao Movimento das Diretas Já. O ato é liderado por Tancredo Neves, Franco Montoro, Orestes Quércia, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Luiz Inácio Lula da Silva e Pedro Simon, além de outros artistas e intelectuais engajados pela causa.
A essa altura, a perda de prestígio do regime militar junto à população era grande. Militares de baixo escalão, com seus salários corroídos pela inflação, começavam a pressionar seus comandantes que também estavam descontentes.
O movimento agregou diversos setores da sociedade brasileira. Participaram inúmeros partidos políticos de oposição ao regime ditatorial, além de lideranças sindicais, civis, artísticas, estudantis e jornalísticas. Dentre os políticos, destacaram-se Tancredo Neves, Leonel Brizola, Miguel Arraes, José Richa, Ulysses Guimarães, André Franco Montoro, Dante de Oliveira, Mário Covas, Gérson Camata, Orestes Quércia, Carlos Bandeirense Mirandópolis, Luiz Inácio Lula da Silva, Eduardo Suplicy, Roberto Freire, Fernando Henrique Cardoso, Marcos Freire e dentre personalidades em geral destacaram-se Sócrates (jogador de futebol), Christiane Torloni, Gianfrancesco Guarnieri, Fafá de Belém, Chico Buarque , Martinho da Vila entre outros.
Os Comícios
Eu estava chegando aos 20 anos em 1984, terminara a escola em 1981, e entrei para o mercado de trabalho. Agora já não mais militante estudantil. A ANES havia sido substituída pelo Sindicato dos Trabalhadores em Metalurgia do Rio de Janeiro, o conhecido e forte Sindicato dos Metalúrgicos, com sede em São Cristovão. O PT havia enfim se tornado um partido reconhecido, dentro dele acolhiam -se várias correntes de pensamento. Isso fazia com que o partido fosse vibrante, e amedrontasse a burguesia. A CS(Convergência Socialista) era a corrente mais barulhenta do PT, e estávamos mais engajados do que nunca na construção das próximas eleições. E acreditávamos...seria Direta Já!
Foi neste cenário que no Rio de Janeiro aconteceram as três maiores passeatas/comício que participei. Em fevereiro, dia 16, a primeira passeata indo da Candelária à Cinelândia, reuniu 60 mil pessoas a favor das Diretas. Um mês depois, 200 mil pessoas, no dia 21 de março se reuniram em nova caminhada pelas Diretas, e novamente da Candelária à Cinelândia, a palavra de ordem era: “ Eu quero votar pr’a presidente!”Menos de um mês depois, dia 10 de abril, 1 milhão de pessoas unidas no mesmo grito, DIRETAS JÁ! No último comício antes da votação da Emenda Dante de Oliveira, no primeiro mega-comício pós AI5 na Cinelândia. Ah, que bom...eu estava lá!


Comício das Diretas Já-RJ/1984
Curiosidade sobre os bastidores dos Comícios
A cantora paraense Fafá de Belém participou ativamente no movimento das Diretas Já a partir do comício de 16 de Abril de 1984. Fafá se apresentou gratuitamente em diversos comícios e passeatas, cantando de forma magistral e muito original, de entre outros temas, o "Hino Nacional Brasileiro", gravado no seu álbum Aprendizes da Esperança, lançado no ano seguinte. A célebre interpretação, diante das câmeras, para uma multidão que clamava pela redemocratização do país, foi muito contestada pela Justiça, mas ao mesmo tempo, foi ovacionada e aclamada pelo público. A partir daí, a Fafá passou a ser conhecida como a "musa das Diretas". Numa entrevista dada ao jornal Folha de S. Paulo em 2006, Fafá declarou que Montoro e outros políticos do PMDB não queriam sua participação no movimento e que ela só passou a se apresentar após insistência de Lula. Na mesma entrevista, Fafá declarou ter sido muito próxima a políticos do PT, mas que sua relação com estes se definhou após ela ter declarado seu apoio a Tancredo Neves, cuja candidatura o partido foi contra. Fafá foi de suma importância para o comício realizado em 10 de abril de 1984, pois foi ela quem conseguiu fazer com que Dante de Oliveira subisse ao palco do evento, alegando para os policiais presentes que ele era o percussionista de sua banda.

Comício pelas Diretas Já! Porto Alegre,RS/1984
                                    Lista de comícios e passeata pelo movimento Diretas Já!
Data/Ano   Cidade Estado       Número de Participantes                  Notas
1983

31/03 -        Abreu de Lima PE -          Primeira manifestação, não houve paarticipação expressiva popular
15/06 -        Goiânia GO            5.000 Praça Cívica
26/06 -        Teresina PI             3.000 Palácio Kamak
12/08-          PE                                   Várias cidades do estados em manifestações simultâneas
27/11-       SP/ SP                    15.000 Data da morte de Teotônio Vilela: o Cavalheiro da Esperança
09/12-       Ponta Grossa PA      1.000
Data/Ano
1984
05/01-Olinda/ PE -        Participação de agentes infiltrados da CIA
12/01- Curitiba PA-                   40.000
15/01-  Camburiu /SC                  5.000
20/01- Salvador/ BA                  15.000
20/01- Vitória/ ES                      10.000
20/01- Campinas/ SP                  12.000
25/01- SP/ SP                           300.000 Aniversário da Cidade na Pça da Sé
26/01- João Pessoa/ PB             10.000
27/01- Olinda/ PE                       30.000
29/01- Macéio/AL                      20.000
16/02- Belém /PA                       60.000
16/02 -RJ/ RJ                             60.000 Passeata Candelária/Cinelândia
17/02- Recife/PE                        12.000
18/02- Manaus/ AM                     6.000
19/02- Capão da Canoa /RS       50.000
19/02- Osasco/ SP                      25.000
20/02- Cuiabá/ MT                     15.000
24/02- BH/ MG                        400.000
26/02- SP                                             Manifestação conjunta com mais 300 municípios
26/02- Aracaju/ SE                     30.000
29/02- Juíz de Fora /MG             30.000
08/03- Anápoles/ GO                  20.000
21/03- RJ/ RJ                             200.000 Passeata da Candelária à Cinelândia
22/03- Campinas /SP                   20.000
23/03- Uberlândia/ MG                40.000
24/03- Campo Grande/ MS         40.000
29/03- Florianópolis/SC               20.000
02/04- Londrina /PA                    50.000
06/04- Natal /RN                         50.000
07/04- Petrolina/ PE                     30.000
10/04- RJ/ RJ                          1.000.000 Candelária
12/04- Goiania /GO                    300.000 Pça Cívica
13/04- Porto Alegre/ RS             200.000
16/-04-SP /SP                       1.5000.000 A maior passeata já registrado na História do Brasil
fonte:Wikipledia
A Emenda
Dante de Oliveira, eleito deputado federal em 1982 pelo PMDB, assumiu em 1 de janeiro de 1983 e desde então começou a coletar as assinaturas para apresentar o projeto de emenda constitucional que estabelecia eleições diretas (170 assinaturas de deputados e 23 de senadores). No dia 2 de março de 1983, finalmente apresentou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n° 5.
Em 25 de abril de 1984, sob grande expectativa dos brasileiros, a emenda das eleições diretas foi votada, obtendo 298 votos a favor, 65 contra e 3 abstenções. Devido a uma manobra de políticos aliados ao regime, não compareceram 112 deputados ao plenário da Câmara dos Deputados no dia da votação. A emenda foi rejeitada por não alcançar o número mínimo de votos para a sua aprovação.
Às vésperas da votação, o Distrito Federal e alguns municípios goianos foram subemtidos às Medidas de Emergência do Planalto. No dia 25, houve no final da tarde, um blecaute de energia em parte das regiões sul e sudeste do País, causando apreensão na população que esperava acompanhar a votação pelo rádio. O apagão durou cerca de duas horas e foi, segundo a Eletrobrás (empresa estatal que controlava todo o sistema elétrico nacional na época), causado por problemas técnicos na rede de transmissão. Em Brasília, tropas do Exército ocuparam parte da Esplanada dos Ministérios e posicionaram-se também em frente ao Congresso Nacional. Oficialmente estariam ali posicionados para proteger os prédios públicos de atos de desobediência civil. Para a oposição, estes fatos foram mecanismos intimidatórios aplicados pelo governo militar para evitar possíveis surpresas na votação.
Percebendo-se que o poder mudaria de mãos em pouco tempo, iniciou-se um período de mudança de partidos entre parlamentares e políticos em geral. Muitos, que eram convictamente de situação, repentinamente iniciaram uma campanha ferrenha contra a ditadura militar. Essa dissidência era liderada principalmente pelos insatisfeitos do PDS (Arena), que não conseguiram indicar seu candidato para a sucessão por via indireta e não concordavam com a candidatura de Paulo Maluf. Entre os insatisfeitos estavam José Sarney e Aureliano Chaves (Vice Presidente). Conseguiram fazer de José Sarney, então "cacique" do PDS, o novo Presidente do Brasil, após a morte de Tancredo Neves. Dava-se continuidade, assim, ao exercício do poder pelos políticos do PDS/ARENA.

Derrota da Emenda Dante de Oliveira


                                                    







1985/1990: O Brasil Democrático, mas nem tanto...
O ano de 1985, iniciou com o Rock In Rio. O maior festival de rock pós Woodstock. Eu nos meus 21 anos estava lá. Jamais perderia a primeira edição do maior evento de rock da década . Nesta edição estavam presentes: Cazuza, Queem, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, Wistesnake,AC/DC,Iron Maiden,Baby Consuelo e Pepeu Gomes,Erasmo Carlos,Ney Matogrosso,George Benson, Al Jarrau,Giberto Gil, Elba Ramalho, Titãs,Ivan Lins,Rod Stuart,GoGo’s,Nina Hagen,Blitz,Lulu Santos,Alceu Valença,Moraes Moreira,Scorpions,Barão Vermelho,Eduardo Dusek,Kid Abelha,Ozzi Osbourne, Rita Lee, Yes e The B’-52’s. Foi rock na veia!
O maior show de rock de todos os tempos.Eu Fui!

No campo político a vontade da direita se fez e o nosso desejo de votar para presidente ainda não será nas eleições de 1985. Via Colégio Eleitoral, e através de inúmeras jogadas politicas a eleição de 1985 é feita de forma indireta.
Após acordos firmados entre o PMDB e a dissidência da ARENA, que forma a Frente Liberal do PDS. A Frente Liberal nasceu de um racha em 1984, entre os membros do Partido Democrático Social(ex ARENA).
O racha foi provocado pela escolha do nome de Paulo Maluf à sucessão presidencial para enfrentar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Os “rebeldes” do PDS, liderados por Aureliano Chaves(vice-presidente de Figueiredo), Marco Maciel e Jorge Bornhausem, senadores. Foi desta forma que nasceu a mais estranha chapa de todos os tempos: Tancredo Neves(MDB-oposição à ditadura militar) para presidente e José Sarney(ex ARENA,ex PDS apoiou claramente o golpe e a ditadura militar) como vice-presidente.
Eleição Tancredo Neves via Colégio Eleitoral
O PT não reconhece o Colégio Eleitoral como forma de eleger o novo presidente, nós militância ativa não acreditamos e nem nos identificamos com essa chapa pavorosa. Desta forma não participamos do Colégio Eleitoral. Mesmo assim, Tancredo e Sarney-Frente Liberal, venceram a Chapa do PDS –Paulo Maluf/Mário Andreazza.
Tancredo ganha,mais não leva...os anos Sarney
Logo após a eleição, Tancredo caí doente não chegando a tomar posse. Morrendo em 21.04.1985. O Brasil será (des)governado por José Sarney.
Sarney, com seu histórico de direita escancarada, não consegue dar conta da inflação galopante que assola os anos 80. É o pesadelo do Milagre econômico acordando o povo, que tinha num mesmo dia, 4 preços diferentes nos gêneros alimentícios. Da-lhe gatilho nos salários para minimizar a penúria. Salário mínimo de CZ$ 840,00 ou seja, US$ 67,00 não se comprava nada. Economia estagnada, divida externa galopante e novo pacote econômico na vida já tão arrochado do brasileiro.
Eu contava agora com 21 anos, chegava a maioridade. No currículum inúmera greves contra os sucessivos arrochos salariais, conhecida pelo meio militante como a “magrinha boa de briga”, e no seio patronal como aquela “magrinha arruaceira”, e na delegacia de sempre, a Primeira DP da Rua Santa Luzia, centro do Rio, como a “garota que não tem família”. Lá ia eu, com um único sonho...Fazer a Revolução.
A Revolução não deu, mas a Greve Geral de agosto de 1987, a essa deu..e foi um sucesso absoluto.
Origens da Greve
Momentaneamente, o governo foi obrigado a frear o arrocho, a manter o gatilho salarial e recuar na vergonhosa manipulação dos índices inflacionários. Mas a deterioração da contas públicas, o aumento da dívida interna, a queda de investimento e desaquecimento econômico marcarão o restante do governo Sarney com o sinal da crise. Em janeiro, o governo chega à moratória técnica, enquanto os empresários pressionavam para a liberação dos preços congelados desde o Cruzado. A CUT, por sua vez, apontava para a necessidade da unificação das lutas salariais na perspectiva de construir uma força superior de resistência à política econômica de Sarney. No primeiro semestre de 87, acontece o maior volume de greves já realizadas, até então, na história recente do país. O funcionalismo público, por exemplo, chegou a índices de 75% de paralisação, em junho. No entanto, eram greves de categorias. Ao mesmo tempo, o governo Sarney insiste na tentativa de constituir um “pacto social”, prontamente rejeitado pela CUT. A idéia da unificação das lutas ainda estava de pé. Para piorar, Sarney decreta, em junho, um novo plano econômico, o Plano Bresser, cujo principal efeito é o confisco de 37,7% nos salários, consolidando, assim, medidas recessivas para voltar a pagar os compromissos da dívida externa suspensos pela moratória do início do ano.
É Neste quadro caótico, que a CUT e o PT com a união de todos os sindicatos, incluindo os que não eram filiados à Central Única dos Trabalhadores conseguiram uma mobilização de quase 80% dos setores trabalhistas deste país. Nos dias 20 e 21 de agosto de 1987, as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Curitiba, Florianópolis pararam literalmente. Salvador e Porto Alegre parcialmente. O Norte e Nordeste infelizmente, devido aos governos de direita e uma população pouco ativa na época não seguiram a solicitação da CUT.
Eu passei a semana inteira sem colocar a cara em casa,articulando e participando da greve ativamente.Meu pai deu um ataque, mas se não se tem medo dos cassetetes da polícia, não será o pai que vai amedrontar né?

Greve Geral 20 e 21 de agosto de 1987
                                                                                                                  
1989: A esperança Quase Lá
O mundo viverá o ano de 1989 com intensas transformações. Se 1968 foi o ano que não acabou...1989, foi o ano que o sonho se desmoronou.
Estava agora com 25 anos, completamente absorvida pela luta sindical e pelo desejo de fazer a tão sonhada revolução. Porém, o mundo assistiria a queda de tudo que acreditávamos. O Leste Europeu, a URSS, os países socialistas que tanto me inspiravam, estavam acabando com a opressão que viviam, e nós deste lado do Atlântico, levamos algum tempo para entender que o que acabava, não era o sonho revolucionário, mas sim várias nações e povos acuados pelo mesmo sistema de exceção que havíamos vividos por aqui por 20 anos...eles estavam há 40 anos sobre as botas de um sistema burocrático que em nada foram pensados ou sequer sonhados, por Marx, Lênin, Trotsky.


Queda do Muro de Berlim 09/11/1989
Retrospectiva dos acontecimentos de 1989
Fevereiro-Abril: Conversações entre o Partido Comunista Polaco e o movimento Solidariedade.
Março: Cerca de 80.000 manifestantes reúnem-se em Budapeste para apelar ao restabelecimento da democracia.
4 e 18 de Junho: Nas eleições semi-livres da Polônia, o movimento Solidariedade conquista 99 dos 100 lugares do Senado e os 116 lugares do Parlamento (apenas um terço dos lugares do Parlamento estava aberto a candidatos do Solidariedade).
27 de Junho: Os ministros dos negócios estrangeiros austríaco e húngaro cortam a cerca que separa as fronteiras da Áustria e da Hungria, em Sankt Margarethen/Sopronkőhida.
19 de Agosto: Abertura simbólica das fronteiras durante três horas, para celebrar um "Picnic Pan-europeu". Mais de 600 cidadãos da República Democrática Alemã (RDA) aproveitam a oportunidade para atravessarem a fronteira: os guardas fronteiriços húngaros não intervêm.
23 de Agosto: O mundo assiste à Cadeia do Báltico, durante a qual dois milhões de pessoas deram as mãos e formaram um cordão humano com mais de 600 km ao longo da Estónia, da Letônia e da Lituânia, para alertar o mundo exterior para a situação dos países do Báltico e o 50° aniversário do Pacto Molotov-Ribbentrop, assinado entre a Alemanha e a União Soviética, que levou à ocupação dos três países.
24 de Agosto: Tadeusz Mazowiecki (Solidariedade) torna-se primeiro-ministro polaco, depois de o candidato comunista não ter sido capaz de formar governo. Assim se forma o primeiro governo não comunista da Europa comunista.
11 de Setembro: O governo húngaro anuncia que os refugiados da RDA não só não seriam repatriados, como seriam autorizados a viajar para o Ocidente. 13.000 refugiados da RDA partem para a Áustria e para a República Federal da Alemanha, através da Hungria. Deixa de existir a Cortina de Ferro entre a Áustria e a Hungria.
7 de Outubro: O Partido Comunista Húngaro deixa de existir oficialmente. É o primeiro a ser extinto em todo o bloco comunista.
9 de Outubro: As manifestações em Leipzig reúnem 70.000 pessoas, que cantam o famoso "O povo somos nós /Wir sind das Volk".
18 de Outubro: Na RDA, Erich Honecker demite-se.
4 de Novembro: A manifestação na Alexanderplatz, em Berlim Oriental, reúne mais de um milhão de pessoas.
9 de Novembro: Face aos protestos em massa, o governo da RDA acaba com as restrições de saída do país. O mundo assiste à queda do Muro de Berlim.
17 de Novembro: Início da Revolução de Veludo. A polícia interrompe violentamente uma manifestação de estudantes e jovens ativistas socialistas, em Praga. Mais tarde, as manifestações alastram-se a todas as grandes cidades da Checoslováquia. As manifestações anti-governamentais de Praga reúnem cerca de 800.000 pessoas e em Bratislava chegam a reunir 100.000 pessoas.
16 de Dezembro: Manifestações em Timişoara, na Romênia. Os estudantes aderem espontaneamente às manifestações e os protestos acabam por chegar a Bucareste. Nicolae Ceausescu discursa perante mais de 100.000 pessoas. O país assiste, na televisão, ao caos em que termina a assembleia. Dá-se início à revolução.
25 de Dezembro: Nicolae Ceausescu, presidente da Romênia é executado.
Processo eleitoral 1989: Lula X Collor
No Brasil é hora de eleições. Agora sim vamos enfim, votar pr’a presidente. A campanha Lula lá, ganha o país. Na estréia como presidenciável em 1989, Lula apresentava-se em comícios e passeatas vestido de jeans e camiseta, de barba comprida, a expressão do rosto fechada e uma dicção sofrível. O visual despojado contribuiu para solidificar o preconceito de vastas camadas da população contra o líder operário. Mas Lula foi crescendo nas pesquisas, bateu o veterano Leonel Brizola (PDT) por pouco e chegou ao segundo turno contra Fernando Collor (PRN). Perdeu a eleição depois de um debate na TV cuja edição, pela Rede Globo, é mencionada e estudada até hoje como exemplo de manipulação da mídia.
Último debate, manipulado pela Rede Globo a favor de Collor
                                        
Os comícios que iniciaram tímidos foram ganhando força entre agosto e outubro. E nós cantávamos a música tema da campanha, com o coração cheios de esperança...
O último comício do segundo turno, na Candelária, palco de outros comícios gigantescos, erámos 1 milhão de pessoas e cantávamos....
“Sem Medo de ser feliz(Hilton Aciolli-Wagner Tiso)
Sem medo de ser
Sem medo de ser
Sem medo de ser feliz
Lula lá brilha uma estrela
Lula lá cresce a esperança
Sem medo de ser
Sem medo de ser
Sem medo de ser feliz
Lula lá, com sinceridade
Lula lá, com toda certeza
Lula lá, é a gente junto
Lula lá, brilha uma estrela
Sem medo de ser
Sem medo de ser
Sem medo de ser feliz
Olê, Olê, Olá
Lula/Lula lá”3                                                
___________________
3.Jingle da campanha de Lula 1989, ganhou as ruas. cantávamos e acreditávamos.



Vídeo do último comício em 11.10.1989-Curitiba/PR
Infelizmente ainda não era desta vez, que a massa chegaria ao poder. Infelizmente também, quando pensamos que tinhámos conquistado o poder em 2002, com a efetiva vitória de Lula nas eleições daquele ano, percebemos que o Lula havia mudado...O Mundo havia mudado...Eu havia mudado.
1990: Collor chega à Presidência- Como se fabrica um presidente: O que já era ruim ficou decididamente pior.
Fernado Collor tinha sido governador de Alagoas, e empreendeu estrategicamente um combate a alguns funcionários públicos que recebiam salários altos e desproporcionais. Com vistas a angariar apoios na campanha presidencial que estava por vir, a imprensa o tornou conhecido nacionalmente como "Caçador de Marajás". Orientado por profissionais de marketing, anunciou com estardalhaço a cobrança de 140 milhões de dólares dos usineiros do estado para com o Banco do Estado de Alagoas, havendo diversas repercussões positivas na imprensa. Entre uma disputa e outra teve o mandato ameaçado ora por uma ameaça de intervenção federal no estado (fruto da recusa em pagar os altos salários aos "marajás" após a vitória destes em julgamento do Supremo Tribunal Federal) ora por um pedido de impeachment devido ao programa de enxugamento da máquina administrativa alagoana, feito à base de demissões de funcionários públicos e extinção de cargos, órgãos e empresas públicas.
Com esse marketing e ajuda da inescrupulosa Rede Globo, Fernando Collor de Melo chega ao poder. Numa eleição bastante discutível em termos de lisura, vamos encarar mais dois anos de aberrações na vida do já tão ferrado povo brasileiro.
O confisco
A primeira medida política executada pelo Governo Collor, ficou conhecida como confisco, não fazia parte, originalmente, do Plano Collor e tem origens num consenso entre os candidatos à presidência da época: Collor, Ulisses Guimarães e Lula da Silva. O confisco já era um tema em debate entre os candidatos à eleição presidencial: A gênese do Plano Collor, ou seja, como e quando foi formatado o programa propriamente dito, desenvolveu-se na assessoria de Collor a partir do final de dezembro de 1989, depois da vitória no segundo turno. O desenho final foi provavelmente muito influenciado por um documento discutido na assessoria do candidato do PMDB, Ulisses Guimarães, e depois na assessoria do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, entre o primeiro turno e o segundo. Apesar das diferenças nas estratégias econômicas gerais, as candidaturas que se enfrentavam em meio à forte aceleração da alta dos preços, submetidas aos riscos de hiperinflação aberta no segundo semestre de 1989, não tinham políticas de estabilização próprias. A proposta de bloqueio teve origem no debate acadêmico e se impôs às principais candidaturas presidenciais. Quando ficou claro o esvaziamento da campanha de Ulysses, a proposta foi levada para a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, obteve grande apoio por parte de sua assessoria econômica e chegou à equipe de Zélia depois do segundo turno.
Neste momento já estava com 26 anos, a vida apertada pelos sucessivos golpes econômicos e derrotas políticas, abateu-se sobre mim um desânimo enorme. Na categoria metalúrgica estava mais queimada do que o edifício Joelma . Militando agora na categoria Ótica-Vidreiro, num sindicato cheio de pelegos e gente mal intencionada. Percebia enfim, que estava na hora de procurar outro rumo para minha vida. Dentro do partido a pressão para continuar no sindicato. No meu coração à vontade enorme de voltar a estudar. Venceu o coração..entrava na faculdade no curso de História.
O ano de 1991, marcou a ruptura da Convergência Socialista com o PT. Após as eleições de 1989, o PT percebeu que precisava se aburguesar para conquistar o poder. Uma das medidas foi a extinção das correntes internas, que davam a cara ao Partido dos Trabalhadores. Algumas destas correntes, tais como a Democracia Socialista(DS) aderiram a pressão da majoritária, a Articulação. A CS, O Trabalho e Causa Operária não acataram a ordem de se dissolverem dentro do PT. Nascia assim ,o PSTU(Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado).
Fundei o PSTU e nele permaneci até 1992, quando percebi que a tônica do partido era eleitoreiro, enquanto eu continuava revolucionária. Estava no início da Faculdade e voltei minha baterias para a pesquisa e magistério. Este ano será marcado pela campanha do Fora Collor que culminou do impeachment do presidente-garotão-muito ladrão.
Fora Collor: Eleição livres já: Governo Itamar Franco
As sucessivas medidas reacionárias do presidênte Collor, as privatizações da Usiminas e CSN, ocorridas entre 1991 e 1992, num dos momentos mais críticos de resistência à política neoliberal, que ganhava cada vez mais espaço, desde a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS.
Dentro do marketing de que empresa pública era o elefante branco que inibia o crescimento do país, lá se foram a Usminas em outubro de 91 e a Cia Siderúrgica Nacional, em fevereiro de 92. Com toda a resistência,e pelo sangue dos companheiros Walmir, Willian e Barroso assassinados durante a greve de ocupação contra a privatização. Com toda a resistência da militância não só do Rio de Janeiro, mas de todo país. Os leilões foram marcados por forte aparato policial e embates de grande violência entre militância e aparelho repressivo. E lá estava eu, no meio da briga, no meio do lacrimogêneo, das balas de borracha, dos cães e cavalos, cassetetes e escudos...e na Primeira DP da Sta Luiza.
Privatização da CSN,RJ/1990



















...E Lá se vai o Collor e seu collorido (des)governo
O Fora Collor foi um movimento político ocorrido no ano de 1992, onde milhares de brasileiros saíram às ruas em passeatas pedindo a saída do poder do presidente da República Fernando Collor de Mello.
Foi fruto da indignação popular em relação ao grande esquema de corrupção, do congelamento das contas bancárias, da alta inflação. Com a comprovação do esquema de corrupção, denunciado por Pedro Collor, irmão de Fernando Collor, que já estava em fase terminal de câncer, a sociedade indigna-se, a juventude vai a rua pedir o impedimento. Os grandes movimentos são organizados pela União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), DCEs, centros acadêmicos, grêmios livres, e do descontentamento popular em relação ao governo Collor. Sua origem tem bases nas famosas passeatas dos caras pintadas, aonde os populares saíam na rua com slogam contra o Governo. Desenvolvendo o movimento denominado Fora Collor, e dos escândalos de corrupção sobre seu tesoureiro, no caso, Paulo Cesar Farias.

Manifestações pelo Fora Collor
Caiu o pior presidente de todos os tempo
Embora tenha esse caráter de apoio dos movimentos sociais e estudantis, o Fora Collor teve apoio da mídia, que foi decisivo para o desfecho com o Impeachment do presidente, feito mesmo após sua renúncia, é claro manipulou-se novamente a nossa vontade de eleições livres. Na verdade o slogan correto era:
FORA COLLOR, ELEIÇÕES LIVRES JÁ! Numa clara alusão às Diretas. Não queriámos o Itamar, entendiámos que se ele era vice de um ladrão do porte do Collor, boa coisa não deveria ser também.
Mas como nesse país a mídia organiza tudo e faz valer a vontade da burguesia, veio o Itamar, encheu lingüiça por dois anos, abriu espaço para o neo liberal-mor, Fernado Henrique Cardoso, implantar o engana otário do Plano Real e se eleger em 1994, seguindo à frente do país até 2002. Ufa!! Não sei como sobrevivi a tanta gente incompetente no governo do Brasil!
1994/2002-Governo Fernando Henrique Cardoso: O Neoliberalismo venceu!
Cheguei aos 30 anos, faculdade quase terminada faltam poucos períodos e serei historiadora. Feliz com a minha escolha, infeliz com o meu país.
A campanha eleitoral de 1993, foi entre Lula e FHC. O engodo do Plano Real, nova moeda, forte, equiparada ao dólar, linhas de créditos abertas pr'a pobre se endividar nas Casas Bahia deram certo. Fernando Henrique abocanha a presidência da República. Mais arrocho, mais privatizações, e cada vez mais nos curvamos aos interesses do FMI e da política de dependência proposta pelos Estados Unidos para toda América.
1993: O Ano das Chacinas
O ano de 1993, foi um ano marcado pela violência e impunidade policial.
A Chacina da Candelária,ocorreu na madrugada de 23 de março á frente da Igreja da Candelária no Centro do Rio de Janeiro. Sem motivos aparentes, ou sólidos um grupo de policiais, provavelmente ligados a grupo de extermínio, atiraram em cerca de 70 menores que dormiam embaixo da marquise da Igreja. Seis menores e 2 maiores morreram na hora, e 62 ficaram feridos.
Quatro meses depois na madrugada de 29 de agosto, nova chacina ocorre, desta vez na Favela de Vigário Geral. A comunidade foi invadida por PMs, provavelmente,pertencentes a grupo de extermínio para vingar a morte de 4 PMs mortos em ataque de traficantes na Pça Catolé da Rocha.
A chacina, a princípio atribuída a traficantes, durantes as investigações se comprovou a participação de PMs. Neste episódio lamentável morreram 21 pessoas, entre elas mulheres, idosos, trabalhadores e jovens sem envolvimento com tráfico de drogas.
Da Chacina de Vigário nasceu o Projeto Afro Reggae, que trouxe para a Comunidade projetos de cunho cultural, descobrindo talentos para música, artes e esportes.

Chacina da Candelária-abril/93






Chacina de Vigário-agosto/93
As coisas não estão feias só por aqui. Argentina mergulha numa crise financeira profunda. Raúl Affonsin é substituído por Carlos Menen, greves e passeatas pontuam Buenos Aires. No México, o presidente Ernesto Zedillo, envolvido com o NAFTA(Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), é o único que se dá muito mal com o Acordo, pois cede mão de obra barata, enquanto o Canadá e Estados Unidos ficam com a tecnologia e impostos sobre os produtos industrializados. Em Honduras é eleito Carlos Roberto Reina e termina a guerra civil, que durou 20 anos, o país está esfacelado economicamente. Bill Clinton, e suas bochechas rosadas, tentam amenizar os ânimos no Oriente Médio, numa clara forçação de barra com um acordo, que não acorda nada entre Yassak Kabin e Yasser Arafat. O mundo se engana, meus amigos acreditam..enfim a Paz no Oriente Médio, e eu sempre do contra arranjo briga com todo mundo. Estava claro, muito claro ... Quanto engano!
Fernado Henrique, ex militante de esquerda, ex professor da USP, agora se curva à polica privatizionista imposta pelos interesses estrangeiro. Lá se foram: a Light-1996; Cia Vale do Rio Doce -1997; Banerj,Besc e Banespa-1997 e as Telecomunicações, 1998.
Charge em alusão as privatizações governo FHC
Na esfera econômica, a recessão continua, o Plano Real, começa a se mostrar irreal a partir de 1998, com alta dos juros, inflação e desemprego. As comissões do FMI toda hora estão em Brasília controlando os “gastos públicos”, desde que sejam em salários dos funcionários públicos, novos concursos ou sucateando as Universidades Públicas e Escolas Técnicas, tais como Ceftes/Cefeteques e PedroII.

Charge alusiva a subserviência do gov.FHC aos interesses norte-americanos
Estamos agora 1996, cheguei aos 33 anos terminei a faculdade, passei de primeira no concurso para professor da Rede Estadual. Assumi turmas em 1997, e publiquei alguns textos tais como: A Guerrilha do Araguaia: O Desfecho da Guerra Suja no Brasil( 1996); Ligas Camponesa: Um Exemplo Marxista na Luta no Campo(1997), As Contradições Sociais do Brasil da Belle Époque(1998) e a Formação Operária Brasileira(1999). Fernando Henrique acabou com as bolsas de pesquisa do Arquivo Nacional, e restou para mim, assim para muitos pesquisadores apenas o magistério. Mal remunerados pelo governador Antony Garotinho, muitos se foram..e eu fiquei...acho que tenho uma queda real para lutas inglórias.
O ano de 2002 foi marcado por novas eleições, desta vez já com 39 anos não participei da campanha, há muito me afastei da militância orgânica. Me limitei a votar no Lula, afinal José Serra nem eu e nem ninguém merecem!!!
Enfim, Lula chegou ao poder...... Vivi o suficiente para ver escandâlos envolvendo o partido que fundei em 1980, vivi o suficiente para ver a Articulação(majoritária do PT) se vender ao grande capital, vivi o suficiente para ver o governo Lula, antes contrário as privatizações, privatizar em 2007 as Estradas Federais, tais como: BR 381-BH/SP;BR393-MG/RJ(Via Dutra);BR 101(Ponte Rio-Niteroí),BR 153-MG/SP, BR 116 SP/PR,BR 116,376 e 101-SC/PR, vivi o suficiente para perder as esperanças no hoje...e apostar, quem sabe no Amanhã.....Amanhã este que pode e deve vir através da militância educacional, que cada um de nós, professores por vocação ou por falta de opção devemos abraçar....Amanhã Vai Ser Outro Dia.

Por: Denise Oliveira- Novembro/2011

Bibliografia:
www.wikipledia.com
http://www.historia.com.br
www.abi,org.br
www.almanaquefolha.uol.com.br
www.caarj.org.br
www.pt.wikipledia.org/wikipledia/DIRETAS_JÁ
www.pt.wiklipedia.org/wiki/TANCREDO_NEVES
www.abcdeluta.org.br
www.europart.europa.br
www.wikipledia.org/wiki/Anexo:Lista_de_presidentes
Argentina, Chile,Honduras e Estados Unidos





















Um comentário:

  1. Fiquei emocionada ao ler o texto e rever essa parte das nossas vidas neste processo complicado e demorado que foi o fim da ditadura no Brasil e talvez na América Latina. Adorei sua visão foi bem realista e muito emocionante. Me lembrei dos momentos das passeatas e dos comícios no qual eu participei e nesta época houve uma greve dos bancários do qual eu participei ativamente pela Convergência e o PT que parou o Brasil. Houve algumas prisões com da Gloria Vargas. Os militares entraram com tanques na av. Rio Branco e nos (eu estava com Gloria, Guilherme Haeser e Cirio entre outros) a palavra era caminhar juntos para não ser pego....saímos da assembleia naquele noite sabendo que era noite mais decisiva da greve...fomos todos juntos para o Banco Central e o Bradesco para não deixar sair e nem entrar funcionários...e os carros blindados com dinheiro....simplesmente deitamos na frente dos tanques e dos carros blindados e a Gloria Vargas foi a grande líder deste ato. Com essa greve os metalúrgicos e os bancários tiveram a maior vitória e junto com as centrais únicas conseguiram colocar o fim da ditadura e depois o fim do governo Collor. Para ilustrar já seu texto foi deixar aqui dois sites
    com com resumo do das histórias dos sindicatos dos bancárioshttp://www.spbancarios.com.br/historia.asp
    http://www.bancariosrio.org.br/noticias1.php?id=5062
    Meus parabéns De, amei....
    Beijos de sua fã numero 1 e companheira e amiga de sempre

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