quinta-feira, 10 de março de 2011

Artigo da Revista Carta Na escola




Matéria da Revista Carta na Escola – edição novembro 2010 N° 51



O Chile do ditador Pinochet


História: Como esta longa e utrareprressiva ditadura foi também celeiro das políticas neoliberais no mundo.


Há 20 anos chegou o fim a ditadura comandada por Augusto Pinochet(1915-2006). Chile, país que até 1973 era o destino de boa parte dos exilados pela ditadura brasileira, também teve um período ditatorial que guardou características próprias: sucedeu a um governo socialista e inaugurou as políticas neoliberais na América Latina e no mundo. Nos 17 anos de regime autoritário, milhares de desaparecidos, mortos e exilados marcaram aquela que talvez, tenha sido a mais cruel das ditaduras da América do Sul. Para tratarmos deste assunto temos que voltar aos anos de 1960 e 70, que tiveram entre outras, a Guerra Fria e uma nova crise do capitalismo.


Guerra Fria: URSS X EUA

O período assim compreendido inicia em 1947, pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial, e vai até a queda do Muro de Berlim e a dissolução da URSS, entre 1989 e 1991. A Guerra Fria foi um momento em que as duas grandes potências vencedoras da Guerra 1939-1945 disputaram o controle mundial através da ocupação de zonas de influência. Por trás de cada lado da Cortina de Ferro estava também uma forma de organização socioeconômica. No lado oriental, predominou aquilo que se convencionou chamar de socialismo (nem todos os socialistas concordam que tenha sido), em linhas gerais caracterizado pela forte presença do estado na economia e na vida social, com centralização das decisões e ausência da propriedade privada dos meios de produção, mas com alguma ingerência do Estado nos setores econômicos e social, a fim de garantir direitos sociais mínimos e a confiança da população no sistema. O estado do Bem Estar-Social ou Welfare State, como também ficou conhecido, tem sofrido um processo de degeneração há 30 anos, com a ascensão das políticas neoliberais, que tem dominado todo o mundo capitalista. O regime democrático também garantia participação nas decisões, ainda que estas estejam sempre sujeitas aos interesses e poder dos grandes proprietários.

No caso da América Latina, um marco nesse período foi a Revolução Cubana, em 1959. País periférico, do ponto de vista de sua importância no capitalismo, ocupado economicamente, desde a sua independência da Espanha, pelos Estados Unidos, em 1898, além de bem próximo deste, Cuba mostrou ao mundo, aos países do então chamado Terceiro Mundo e, particularmente aos latinos-americanos, que uma revolução nesse contexto não apenas era viável como possível.

Não por acaso, a partir da ousadia cubana, o cerco norte-americano em relação aos países da América Latina fechou-se ainda mais, sobretudo a partir de 1961, quando o governo revolucionário cubano anunciou que caminharia em direção ao socialismo e após a fracassada tentativa de invasão da Baía dos Porcos. A partir disso, uma série de golpes de Estado, tendo à frente os militares,mas apoiados por grandes empresários e setores da classe média,tomou conta dos países da região.

Se até então o capitalismo se apresentava como única forma de organização socioeconômica possível,a URSS e Cuba mostravam que havia algo de novo no front. É neste contexto que devemos entender a ascensão da Unidade Popular ao governo em 1970, com a eleição de Salvador Allende à Presidência do Chile,por meio da congregação de seis partidos de esquerda, sendo os principais o Partido Socialista, de Allende, e o Comunista, de Pablo Neruda. E é nesse embate também que devemos estudar as dificuldades pelas quais passou o país nessa tentativa de construir socialismo pela via constitucional e democrática. Tais dificuldades desembocaram numa crise política e econômica, e esta, em última estância, reforçou as propostas golpistas. De imediato, os setores de mineração e os bancos foram nacionalizados, ferindo os interesses da burguesia interna chilena e também da internacional, como a norte-americana, que tinha investimentos no país e planos de aumentar a exploração para fazer frente à nova crise que se anunciava no sistema capitalista.

Ditadura e Neoliberalismo

A derrocada da experiência chilena rumo ao socialismo deu-se num momento em que a era de ouro do capitalismo, com 30 anos de crescimento e relativa estabilidade,chegava ao fim. Marcada por crises cíclicas, o modo de produção capitalista sobrevivera ao Crash de 1929 e à Depressão dos anos 1930 com o advento do Welfare State (Estado do Bem Estar Social).


A produção nos anos 1970 estava em queda e a inflação subia. Naquele momento, a crise capitalista era agravada pelo aumento do preço do petróleo, com a formação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e a conseqüente queda nas taxas de lucro. Assim, a ideologia liberal voltou com força e pregou a retirada do Estado em relação à economia e à sociedade, deixando à iniciativa privada terreno livre para explorar setores até então nunca antes mercantilizados.

É neste sentido que teremos a política de privatizações que, no limite,chega à saúde e à educação, que até então eram vistas como serviços essenciais e que no contexto neoliberal passam a ser mercadoria como quaisquer outras. Quem pode paga, quem não pode fica sem ou se submete aos precários serviços ainda prestados pelo Estado. O neoliberalismo, se quisermos, pode ser visto como retorno das políticas liberais, mas com mais ênfase na retirada do Estado e no avanço das companhias privadas.


Se a via chilena ao socialismo apresentava-se como alternativa ao ideário neoliberal e à crise que se instalava, o socialismo “real” foi marcado pelo stalinismo. Daí também a URSS não tê-lo socorrido quando mais precisou. Daí também a derrota na Bolívia, e em 1972, em ambos os casos atuando decididamente nos governos e empresários brasileiros e dos EUA.

O golpe desferido em 11 de setembro de 1973 e a morte de Salvador Allende alcançaram Augusto Pinochet (ironicamente,homem próximo do presidente morto) ao governo. Ele presidiu uma junta militar que, depois foi dissolvida para o poder nele se concentrasse e o Chile, em plenos anos 1970, se constituísse em espécie de laboratório das políticas neoliberais na América Latina e modelo para o que depois viria pelo mundo com a Inglaterra de Margareth Teacher (a quem apoiou em 1982, na Guerra das Malvinas e EUA de Ronald Reagan).

Não à toa, o país foi apresentado como exemplo a ser seguido pelos demais vizinhos, segundo o governo dos EUA e organismos como Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

Golpes e Mais Golpes

Em 1988, tendo em vista o esgarçamento das ditaduras e a pressão da sociedade civil pelo retorno à democracia, Pinochet submeteu-se a um plebiscito sobre sua continuidade no governo. Perdeu. Em 1990,quando foi eleito Patrício Aylwin, Pinochet assumiu o comando do Exército até 1998. Em seguida, tornou-se senador vitalício, ao mesmo tempo que respondia por crimes de corrupção e escapou da condenação na Espanha, alegando insanidade mental, por assassinato de cidadãos espanhóis durante seu governo. Em 2006, quando morreu a América Latina dava mostras claras do esgotamento das políticas neoliberais,após a derrubada de diversos governos que tentaram implementar tais políticas, além da ascensão de outros forjados no campo da esquerda que combatiam, cada um a seu modo esse ideário.

Como exemplo de que novas viradas ideológicas no continente não seriam permitidas pelas forças hegemônicas, em 2002 assistimos, guardadas as proporções, um golpe de Estado que lembrou de 1973. Desta vez abortado pela população venezuelana, que resistiu à queda do governo constitucionalmente eleito de Hugo Chávez. Talvez a tentativa frustrada de golpe no Equador, recentemente, possa ser analisada nesta perspectiva.

Hoje temos no Chile o início de um governo de direita que pode reforçar tais políticas de direita que pode reforçar tais políticas iniciadas por Augusto Pinochet, após o governo de Michelle Bachelet, filha de uma vítima da ditadura,não conseguiu reverter a desigualdade social d distanciar o país dos EUA. Parece que, ao menos no Chile, o neoliberalismo ainda sobreviva e representa uma cunha colocada em meio a governos e populações que pedem um novo caminho para organizar sua vida.


Transcrito na íntegra da Revista Carta na Escola, edição 51, novembro 2010, venda proibida, PNDE- edição para professores 2010.
Site: WWW.cartanaescola.com.br





terça-feira, 8 de março de 2011

Polônia: uma guerra vários inimigos

Soldados poloneses durante a invasão alemã
A invasão da Polônia pelo exercíto alemão, em 1 de setembro de 1939, marcou o início efetivo da II Guerra Mundial. Na verdade a II Guerra já vinha sendo desenhada pelo Nazismo, desde 1934, ano que marca a chegada de Adolf Hitler ao poder na Alemanha. Depois da noite dos longos punhais, onde toda e qualquer resistência as ideias nazistas foram varridas da Alemanha , a mando do Führer e comandadas pelas tropas de elite da SS. Nada mais impediu o avanço do partido não só na Alemanha, mas também na anexação dos territórios dos Sudetos, no leste europeu e da Áustria. Até então, Inglaterra e França se faziam de mortas para que não houvesse mais um confronto bélico no continente, já que estas nações estavam bem esclarecidas sobre o caos econômico que um novo conflito mundial acarretaria nas suas colônias da Ásia e África.
É neste contexto que Hitler e Stalin assinam o Pacto Molotov-Ribbentrop , de não agressão mútua, assinado em 1939.
Em 1 de setembro, sem nenhum aviso prévio ou declaração formal de guerra, a Polônia é invadida de madrugada pelas tropas alemãs. E na noite de 16 para 17 de setembro de 1939, pelo Exército Vermelho. A URSS, tratou de assegurar sua parte do acordo com Hitler.
Tornou-se claro que a Polônia não tinha só um inimigo, mas dois. Desde o dia em que começou a Segunda Guerra −, a Polônia estava conseguindo se defender de forma corajosa, ainda que sem sucesso, contra a então ainda poderosa Wehrmacht (Exército alemão). Até aquela noite, no entanto, não se sabia que a Alemanha e a União Soviética − na verdade, ferrenhas inimigas ideológicas − haviam se aliado num protocolo secreto anexado ao Pacto de Não-Agressão. Segundo este protocolo, Hitler e Stalin pretendiam dividir a Polônia. Naquela noite, o Exército Vermelho cruzou a fronteira oriental polonesa para assegurar sua parte do butim. Iniciava-se um dos mais terríveis episódios de uma história cheia de desgraças.


Por que tanta sede sobre a Polônia?
A Polônia já havia sido chamada de “chave do cofre” por Napoleão Bonaparte já que o país constituía um “corredor” por onde é possível invadir a URSS, como Bonaparte fez no século XIX e depois Hilter repetiria em 1941. Stalin, havia tomado suas precauções fechando essa passagem ao invadir o país pelo leste.
Os civis são os alvos principais da disputa pela Polônia
Seis milhões de poloneses morreram no conflito, dos quais mais de 95% civis. Durante seis anos, a Polônia pareceu um "matadouro mecanizado, cuja esteira rolante transportava constantemente os cadáveres de seres humanos assassinados", como disse certa vez o escritor polonês e Nobel de Literatura Czeslaw Milosz.
Situavam-se na Polônia ocupada os principais campos de concentração − Auschwitz, Treblinka, Sobibor, Belzec, Chelmno e Maidanek. Apenas 10% dos 3,3 milhões de judeus poloneses conseguiram se salvar.
Um fato que a perspectiva alemã às vezes deixa de considerar é que não foram apenas os judeus a ser sacrificados pela fúria destruidora dos alemães. Conforme os objetivos de guerra dos nazistas, a Polônia deveria desaparecer como nação. Por isso, a partir de 1939 foi iniciada uma verdadeira caça aos que manifestassem uma ideologia nacionalista polonesa.
Intelectuais, religiosos e nobres foram transportados aos milhares para campos de concentração, ou executados imediatamente. A meta era "germanizar" os territórios poloneses e transformar a população em mão-de-obra escrava.
A URSS não deixou por menos, logo após o Exército Vermelhou invadir o país iniciou-se os expurgos, para consolidar sua ocupação territorial os soviéticos assassinaram, aprissionaram e deportaram milhões de poloneses. Tais expurgos haviam começado imediatamente a invasão dos soviéticos ao território polonês.
A partir de agosto de 1944, a segunda fase desses expurgos já envolvia a deportação, prisão ou assassinatos de milhões de pessoas. Segundo o escritor Alexander Soljenítsin, umm dos primeiros a expor ao mundo os horrores da guerra e dos gulags(campos de trabalhos forçados impostos aos dissidentes ou prisioneiros de guerra ou políticos na URSS). “ Nações inteiras desapareceram pelos buracos dos esgotos.”
Houve um documento assinado em Yalta, pouco antes das delegações voltassem a seus postos de guerra: um acordo secreto sobre “repatriações”. O termo implicava que deveria existir uma pátria para a qual o indivíduo pudesse voltar após a guerra, e para isso, era preciso que a Europa estivesse divida en nações-estados. O problema que essa questão era altamente impossível de ocorrer naqueles tempos, principalmente no caso dos “russos”(termo pejorativo destinado a se referir de maneira genérica a qualquer pessoa originária da URSS). Em setembro de 1944, o gabinete de Guerra Britânico adotou a política de repatriamento forçado de “russos”, e em novembro os americanos seguiram o exemplo inglês. Quando os três chefes de estado se reuniram em Yalta, já haviam milhares de “repatriados”, mesmo que a URSS, tivesse 110 grupos éticos reunidos sob uma ditadura que havia efetivamente destruído os governos locais e esses “repatriados” não vissem nos territórios ocupados pela URSS, uma pátria para eles.
Os poloneses dissidentes e prisioneiros judeus sobreviventes dos campos de Auschwitz, e outros complexos de campos de concentração nazistas no oeste da Polônia e leste da Alemanha, foram evacuados forçosamente para campos localizados a centenas de quilômetros . Aqueles que não tinham condições físicas eram sumáriamente fulizados em grupos, não pelos nazistas, mas pelo tão libertador Exército Vermelho.


Por que a Inglaterra tratou as duas invasões da Polônia de forma tão distintas?
Com o crescente avanço da Alemanha sobre a Polônia e o acordo fechado entre Hitler e Stalin, a Inglaterra ofereceu à Polônia uma série de garantias, o que gerou o acordo Anglo-Polonês de ajuda mútua, assinado dois dias após o Pacto Molotov-Ribbentrop. A partir desse tratado, os britânicos se comprometeriam em ajudar os poloneses de ataque. Com efeito, após a invasão alemã, os ingleses declaram guerra dois dias depois.
Porém, na segunda invasão, a Soviética em 17 de setembro, quando 600mil soldados Vermelhos invadiram o leste do país, os britânicos não declararam guerra à URSS. Na época, a opinião pública não sabia que havia uma cláusula no acordo, só prevendo a invasão por parte da Alemanha.
Assim a agressão soviética foi abertamente tratada de maneira diferente em relação a alemã, e não é difícil entender as razões: Não havia interesse da Inglaterra em declarar guerra ao segundo país totalitário europeu, e que seria mais a frente, um “aliado” contra os alemães.
Heróis sem Pátria
A Inglaterra reconheceu abertamente a influência Soviética na Polônia, com resultado os poloneses que haviam lutado contra os exércitos alemães, ao final da guerra, se transformaram em pedras nos sapatos dos ingleses, pois não aceitavam a presença soviética em seu território, exigindo a libertação imediata do país.
Em resposta, para não aborrecer aos fantoches de Stalin, os soldados poloneses não foram convidados a participarem do Desfile da Vitória e nem as comemorações do Dia V.
Ao menos 15 mil soldados poloneses, que haviam lutado sob o comando do general Anders, um dos poucos generais polonese que conseguiu sobreviver ao extermínio em massa de generais poloneses pelo Exército Russo, retornaram a Polônia. Mas não havia “nada no futuro, a não ser vagar pelo exílio”.
Na verdade, a posição aliada aos exércitos poloneses, foi covarde, pois para assegurar a “parilha segura” do continente europeu, os aliados simplesmente ignoraram o sacrifício e a luta dos poloneses pela libertação de seu território. Para o povo polonês, a II Guerra Mundial não teminou em maio de 1945, ainda precisou-se de mais 45 anos até que os poloneses, enfim pudessem se donos de sua terra e viverem em liberdade.




Fonte:
Revista BBC História, 11° fascículo, pp 37 e 38/63,64 e 65
Blog: DW-World.DE –Deusche Welle- Artigo: Polônia o país mais devastado


Por : Denise Oliveira – fevereiro/2011