domingo, 3 de outubro de 2010

Frutos da Revolução





A Revolução Francesa(1789/1799) abriu espaço para inúmeros levantes na Europa no decorrer do século XIX. Essa onda de revoltas liberais levou o nome de Primavera dos Povos,e chacoalhou o continente europeu no ano de 1848.

Liberdade e Nacionalismo

Naquela época, a maioria dos liberais acreditavam que a unidade e soberania Nacional eram condições essenciais para assegurar os direitos individuais e a dignidade dos cidadãos. Assim, quando um dos maiores visionários do século 19, o revolucionário italiano Guisepe Mazzini, fundou a organização jovem Itália, em 1831, ele declarou que seus objetivos eram "republicanos e unitaristas", porque somente um governo republicano iria assegurar liberdade para todos, enquanto que a unidade era necessária pois "sem ela não existe uma nação."

Assim como Mazzini, outros idealistas descontentes haviam surgido depois das Guerras Napoleônicas para derrubar a ordem conservadora por meio de conspiração e insurreição. Depois de Waterloo, havia um conflito crescente de um lado, a oposição liberal, formada por sociedades revolucionárias secretas, que promoviam atentados e incitavam levantes, e pelo jornalismo radical, responsável pela crítica intelectual; do outro a repressão governamental sob forma de censura, prisões, vigilância e intervenção militar.

A década de 1820 viu rebeliões liberais na Espanha, Portugal, Itália, Rússia, nenhuma delas bem-sucedida. Já na década de 1830, a onda de insurreições que assolou o continente foi um pouco mais encorajadora, com liberais emergindo vitoriosos em boa parte da Europa ocidental, incluindo França(onde Carlos X, da dinastia dos Bourbons, foi derrubado e substituído pelo mais liberal Luís Felipe I, duque d'Orleans), Bélgica, Portugal e Espanha. Na Polônia e Itália central, entretanto os movimentos foram cruelmente reprimidos, e depois de algumas atividades liberais na Alemanha também foram sufocadas. A Ordem conservadora havia se curvado, mas não desmoronado. Nos dez anos seguintes, no entanto a história seria um pouco diferente.

O ano dos confrontos

Na metade da década de 1840, aconteceu a pior crise econômica do século 19, o que popularizou a oposição liberal. Enquanto isso, a ordem conservadora parecia impotente frente ao aumento do desemprego e à fome que castigava os mais pobres. Liberais por toda Europa aumentavam a pressão sobre os governos, exigindo reformas políticas. O ano de 1848 chegou e logo vieram os primeiros sinais de que algo grande estava por vir, com ações rebeldes na Itália . Mas foi da França que veio o grande estopim, uma nova revolução derrubou a monarquia e proclamou a segunda república em 24 de fevereiro.

As notícias enviadas de Paris funcionaram como uma descarga elétrica para os liberais, em questão de semanas Berlim, Viena, Milão,Praga,Budapeste, Veneza, Roma,Napóles, Palermo, Cracóvia e muitos outros lugares tornaram-se palco de protestos , em massa com barricadas nas ruas e árduas batalhas. Cheios de esperança, os rebeldes na Alemanha e na Itália trabalhavam pela unificação de seus países, enquanto que os patriotas poloneses e romenos lutaram para se livrar da opressão de governos estrangeiros. Da mesma forma, os tchecos, os húngaros, os italianos do norte, os poloneses da Galícia, os romenos da Transilvânia, os sérvios e os croatas exigiram do Império Austríaco maior autonomia ou total independência. Em cada um desses países, os governos foram forçados a promover a elaboração de novas constituições.(...)

Essa onda de revoluções de 1848, que entrou para a História como Primavera dos Povos representou uma tremenda oportunidade para assegurar a autonomia nacional, liberdade constitucional e direitos individuais. Em muitos países, camponeses e trabalhadores desfrutavam pela primeira vez de participação política, votando em eleições, filiando-se a partidos e formando uniões comerciais. (...)

No entanto a nova ordem já nascia com os dias contados. A principal razão para o seu fracasso foi o fato dela excluir muitos do mundo novo que propunha. Os liberais agarraram a oportunidade de concretizar suas visões de liberdade nacional, mas o fizeram apenas contemplando seus interesses. Em muitas regiões houve choque entre reivindicações territoriais de nacionalidades diferentes.(...) Assim, a Primavera dos Povos logo se tornou um gélido e longo inverno de conflitos étnicos.

Além disso, a maioria dos liberais era formada por aqueles que queriam a reforma política, mas negavam reformas sociais, o que deixavam os operários e pequenos comerciantes, que sentiam os efeitos da crise na pele, vulneráveis às seduções dos radicais esquerdistas.(...)

Os conservadores revidam
No verão houve confronto entre moderados e radicais nas ruas de Berlim, Viena e Frankfurt. O Medo da militância da classe operária e da "anarquia" social fez com que muitos liberais de classe média deixassem seus princípios originais e se alinhassem com os conservadores. No interior os camponeses deixaram de receber novas promessas liberais, e como resultado, o antigo hábito de depender da figura paternal do monarca volta a aflorar. Na França, o autoritário Luís Napoleão Bonaparte (sobrinho do antigo imperador), ganhou a presidência com a maioria esmagadora dos votos. No final daquele ano, os conservadores haviam conseguido revidar, destruindo os regimes liberais em quase todos os lugares. Houve uma segunda onda de revoluções na Alemanha e na Itália em 1849, mas foram esmagadas. Os liberais húngaros aguentaram firme, mas entraram em colapso sob fortes ataques combinados de austríacos e russos.

A Primavera dos Povos terminou de maneira prematura e o fracasso das revoluções de 1848 representou uma tragédia em termos políticos na Europa. Mesmo aonde houve algum tipo de vitória como na Alemanha e Itália, que posteriormente conseguiram suas respectivas unificações,as conquistas foram marcadas pela imposição dos interesses das elites estabelecidas, em detrimento das liberdades e direitos da maioria. Os conflitos étnicos que explodiram em muitas regiões naquele ano deram origem a rancores latentes que marcariam as relações entre as nações vizinhas nas próximas décadas. Tudo isso somado teria consequências desastrosas para a Europa, plantando as sementes de muitos conflitos que abalariam o continente no século 20, inclusive a Primeira Guerra Mundial.

David Andress(prof. de História Moderna da Europa na Universidade de Portsmouth)
Mike Rapport (prof. Acadêmico de História na Universidade de Stirlin)
Copilado da Revista BBC História PP 26 e 27.
Por Denise Oliveira /Outubro de 2010

Um comentário:

  1. Copilei parte deste artigo por ser um tema que pouco é explorado e o artigo está muito bom merecia ser divulgado. Todos os créditos foram postados no blog. Denise

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