sábado, 17 de setembro de 2011

A Comuna de Paris

Cartaz da Comuna de Paris Março/Maio 1871
Introdução

Não pretendo fazer um trabalho profundo sobre os 140 anos da Comuna de Paris, não sou muito afeita a História Geral, gosto mais de escrever sobre a História do Brasil. Porém, não poderia deixar passar esse episódio tão importante na luta de classes, ocorrido em plena Revolução Industrial, primeira experiência concreta dos trabalhadores em tomar o poder, e com Karl Marx ainda vivo, atuando e elaborando melhorias nas suas teorias, sobre a luta dos explorados e excluídos do sistema.
A grande maioria das pessoas pensa que a Europa sempre foi o paraíso sobre a terra, e que sempre houve muito respeito entre patrões e empregados. Enganam-se, pois durante o auge da Revolução Industrial, surgida na Inglaterra nos finais do século XVIII e XIX, a exploração da massa trabalhadora, engolida pela máquina e a concentração de renda nas mãos dos capitalistas, levaram em muito o desespero da fome, doenças e criminalidade entre o proletariado. A Comuna de Paris, será a primeira resposta efetiva de luta dos trabalhadores contra esse estado de miséria latente, ao qual eram empurrados, na ânsia de satisfazer mais e mais o grande capital.

A França de Napoleão III

Carlos Luís Napoleão Bonaparte nasceu em Paris em 20 de Abril de 1808. Era o terceiro e último filho do Rei Luís e da Rainha Hortense da Holanda; era também sobrinho de Napoleão I. A família Bonaparte tinha sido expulsa de França após a queda do seu tio; assim Luís Napoleão cresceu e foi educado na Suíça e na Baviera. Educou-se sob os valores do mito Napoleônico e incentivado pela mãe a reconquistar o poder da família, escreve uma série de textos e tratados, formulando um programa político apresentando-se como um liberal, especialista militar e defensor da industrialização.
Após a revolução que levou à queda do rei Luís Filipe em Fevereiro de 1848, Luís Napoleão regressa a França e lança-se de novo na arena política ao apresentar-se como candidato à presidência da nova república francesa. O nome e a nostalgia da era napoleônica ajudam-no a vencer as eleições com uma grande maioria de votos. O limite do mandato de presidente e uma vitória monárquica nas eleições legislativas acabam por lhe condicionar a sua ação política; resolve esse problema com um golpe de estado em 2 de Dezembro de 1851, assumindo poderes ditatoriais e alargando o período do seu mandato.
A partir do final dos anos 50 e início dos anos 60, entre as bases de apoio de Napoleão, começam a surgir queixas, questionamentos a sua política,mas não ao regime; estes desacordos nas cúpulas facilitam o renascimento de oposições, tanto republicanas como socialistas, que o Imperador procura esvaziar com algumas semi-medidas de cunho liberais.No decorrer dos anos 60, as dificuldades crescem no terreno econômico. Na política externa e militar, acontecem reveses na Itália e no México; o Império já deixou de ser o regime da paz. Primeira grande onda de greves em 1864, ano de outras semi-medidas liberais;entre as quais: o reconhecimento do direito de coalizão; o direito de reunião será reconhecido apenas em 1868. Cresce a oposição liberal e republicana; cresce também, mas em outro compasso, menos impetuoso a organização do movimento operário, apoiando-se, inclusive, embora na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT-A Internacional), fundada em 1864, em Londres. Em 1867, nova grande onda de greves, que se repete em 1869-70. Nas eleições de maio de 1869, as oposições conseguem obter mais de 40% dos votos: uma autêntica vitória, celebrada com manifestações em Paris. Novas medidas liberais de Napoleão III, em 6 de setembro, são aumentados os poderes das duas Assembléias, que também negociam a formação de um novo governo, dirigido pelo ex-oposicionista moderado Émile Ollivier; este assume em 2 de janeiro de 1870. Em 10 de janeiro, Victor Noir, jornalista do La Marseillaise, o periódico dos republicanos mais radicais, é assassinado pelo príncipe Pierre Bonaparte, primo do Imperador; uma multidão de duzentas, mil pessoas comparece a seu enterro: uma imponente manifestação política.
Procurando retomar a iniciativa, Napoleão III decide antecipar-se. Em março de 1870, anuncia uma profunda reforma constitucional; concedida em abril, esta transforma o regime numa espécie de monarquia parlamentar. O novo curso liberal do regime não o impede, de recorrer à repressão:ainda em abril, sob o pretexto de controlar supostos "complôs", o governo manda prender e processar todos os membros da Internacional na França. Em 8 de maio, as reformas são submetidas a um plebiscito com esmagadora vitória para o governo. As oposições ficam desnorteadas.

A Guerra Franco Prussiana

Desde 1864, vinham se deteriorando as relações entre os governos da Prússia e da França, em decorrência da política de unidade alemã desenvolvida por Otto Von Bismarck e das mal sucedidas tentativas de Napoleão III de obter dele algumas vantagens territoriais. Finalmente, por ocasião da sucessão ao trono da Espanha, Bismarck monta uma armadilha, na qual Napoleão apressa-se em cair: apesar dos alertas de vários setores, burgueses e operários, o governo francês declara guerra à Prússia, em julho de 1870. Apoiada pela imprensa, cujo lema é "a Berlim!", a decisão recebe um amplo apoio da opinião pública, provoca cenas entusiásticas de nacionalismo popular, inclusive nos setores do movimento operário.
Em agosto, os embates começam. A superioridade do armamento, do treinamento e do comando da tropa prussiana não demora para comprovar-se. Os erros franceses levam a uma sucessão de derrotas, que leva à derrubada de Ollivier e de seu ministério, sacrificados como bodes expiatórios. Em 1º de setembro, começa a Batalha de Sedan que, no dia 2, termina em capitulação francesa, incondicional; as cifras do desastre: três mil mortos, 14 mil feridos, mais de oitenta mil prisioneiros, entre os quais 39 generais e o próprio Imperador. A derrota de Sedan implicaria mais tarde, a perda do exército refugiado em Metz e o sítio de Paris.
A notícia do desastre de Sedan levanta a população de Paris que, no dia 4, invade a Câmara, exigindo a queda do regime; sob a pressão popular, o Império é derrubado, a República proclamada e formado um Governo de Defesa Nacional. A guerra, poderosa incubadora , deu cria à revolução, época em que os desejos políticos e sociais precipitam-se violentamente.



Batalha de Sedan-Derrota final francesa
A Comuna de Paris

Comuna de Paris é o nome dado à primeira experiência histórica de um governo proletário, ocorrida entre março e maio de 1871, na França. O movimento que levou à formação da comuna, entretanto, contou com a participação de outros extratos e segmentos político-sociais, como a pequena burguesia francesa, membros da Guarda Nacional e partidários do regime republicano, proclamado logo após a derrota francesa na guerra.
A vitória prussiana impôs uma séria de obrigações aos franceses, por parte do Tratado de Frankfurt: a perda dos ricos território de minério de Alsácia-Lorena, pagamento de pesadas indenizações, ocupação da França por tropas prussianas e inúmeros presos de guerra.
Foi neste período que, submetidos à fome, à miséria e à humilhação, milhares de trabalhadores franceses se organizaram em uma grande rebelião. Tomando a cidade de Paris em março de 1871 e instaurando um governo popular denominado Comuna de Paris.

A Tomada de Paris


À dissolução do Exército seguiu-se a tentativa de Adolphe Thiers , líder do governo republicano de desmilitarizar a Guarda Nacional. Mas seus integrantes resistiram em entregar os canhões ao governo, chegando até mesmo a atacar o Hôtel de Ville, sede do governo provisório, levando seus membros a fugir para Versalhes. Paris ficou, então, sem comando político.
No vazio deixado pelo governo e em meio a uma correlação heterogênea de forças, formou-se a Comuna de Paris. Influenciado pelas idéias socialistas, o governo proletário instituído em 1871 tomou uma série de medidas no sentido de formar um poder democrático e popular. Dentre elas, pode-se destacar a abolição do trabalho noturno, a redução da jornada de trabalho, a concessão de pensão a viúvas e órfãos, a substituição dos antigos ministérios por comissões eletivas e a separação entre Igreja e Estado. Havia a expectativa de que o movimento pudesse juntar-se às comunas formadas em Marselha e Lyon, mas sua derrota ajudou a isolar ainda mais a experiência do governo proletário em Paris.
O governo da Comuna de Paris era composto de anarquistas, socialistas e liberais radicais, que concordavam em não obedecer o governo francês, instalado no Palácio de Versalhes.
Em abril de 1871, o governo da Comuna divulgou um manifesto convocando todos os trabalhadores da França a aderirem a Comuna, criando uma federação de comunas. Os objetivos eram:

• Criar um estado de trabalhadores, formado por uma federação de comunas livres e autônomas;
• Eleger, pelo voto dos trabalhadores, os funcionários de Estado, que poderiam perder seus cargos a qualquer medida impopular;
• Substituição do Exército por milícias populares;
• Congelar preços dos alimentos e aluguéis;
• Criação de creches e escolas para os filhos dos trabalhadores;
• Estabelecer que o Estado deveria voltar suas ações em favor de melhoria nas condições de vida dos trabalhadores.

A Tomada de Paris pelos comunardos-1871





Algumas medidas adotadas durante os 72 dias da Comuna de Paris
Em semanas, a Comuna de Paris introduziu mais reformas do que todos os governos nos dois séculos anteriores combinados:

1. O trabalho noturno foi abolido;

2. Oficinas que estavam fechadas foram reabertas para que cooperativas fossem instaladas;

3. Residências vazias foram desapropriadas e ocupadas;

4. Em cada residência oficial foi instalado um comitê para organizar a ocupação de moradias;

5. Todos os descontos em salário foram abolidos;

6. A jornada de trabalho foi reduzida, e chegou-se a propor a jornada de oito horas;

7. Os sindicatos foram legalizados;

8. Instituiu-se a igualdade entre os sexos;

9. Projetou-se a autogestão das fábricas;

10. O monopólio da lei pelos advogados, o juramento judicial e os honorários foram abolidos;

11. Testamentos, doações e a contratação de advogados tornaram-se gratuitos;

12. O casamento tornou-se gratuito e simplificado;

13. A pena de morte foi abolida;

14. O cargo de juiz tornou-se eletivo;

15. O calendário revolucionário foi novamente adotado;

16. O Estado e a Igreja foram separados; a Igreja deixou de ser subvencionada pelo Estado e os espólios sem herdeiros passaram a ser confiscados pelo Estado;

17. A educação tornou-se gratuita, secular, e compulsória. Escolas noturnas foram criadas e todas as escolas passaram a ser de sexo misto;

18. Imagens santas foram derretidas e sociedades de discussão foram adotadas nas Igrejas;

19. A Igreja de Brea, erguida em memória de um dos homens envolvidos na repressão da Revolução de 1848 foi demolida. O confessionário de Luís XVI e a coluna Vendome também;

20. A Bandeira Vermelha foi adotada como símbolo da Unidade Federal da Humanidade;

21. O internacionalismo foi posto em prática: o fato de ser estrangeiro tornou-se irrelevante. Os integrantes da Comuna incluíam belgas, italianos, polacos, húngaros;

22. Instituiu-se um escritório central de imprensa;

23. Emitiu-se um apelo à Associação Internacional dos Trabalhadores;

24. O serviço militar obrigatório e o exército regular foram abolidos;

25. Todas as finanças foram reorganizadas, incluindo os correios, a assistência pública e os telégrafos;

26. Havia um plano para a rotação de trabalhadores;

27. Considerou-se instituir uma Escola Nacional de Serviço Público, da qual a atual ENA francesa é uma cópia;

28. Os artistas passaram a autogestionar os teatros e editoras;

29. O salário dos professor foi duplicado.


A Derrota da Comuna de Paris

Em parte, a limitação geográfica do governo comunal facilitou a vitória de Thiers. Ao mesmo tempo, devemos somar a isso outros fatores: as divisões políticas dentro do movimento, o fato de o governo formado em Paris não ter atacado Versalhes e a ausência de um comando militar suficientemente preparado para uma eventual invasão.
Com o apoio dos alemães e da burguesia tradicional, o governo de Adolpho Thiers conseguiu reunir um exército para destruir a Comuna, na chamada Semana Sangrenta.
Enquanto medidas democráticas eram tomadas em Paris, Thiers negociava com a Prússia, em Versalhes, uma aliança para derrotar o governo comunal. Em troca de concessões da França, Bismarck libertou presos de guerra para que pudessem ajudar no cerco à cidade. Assim, em maio de 1871, mais de 100 mil soldados invadiram Paris. Com um saldo de 20 mil mortos, do lado parisiense, 400 mil pessoas foram presas e exiladas na Guiana Francesa.
A Comuna de Paris foi considerada a primeira experiência de tomada de poder pelos trabalhadores, na tentativa de um governo socialista. A Comuna de Paris durou 72 dias. Saudando os comunardos, Marx disse que ousaram "tomar o céu de assalto".
O que só ocorreria com sucesso, em 1917, na Rússia, pós Revolução Bolchevique de Outubro.



A  Resistência



A Derrota da Comuna: os mortos






Bibliografia:

COTRIM,Gilberto: A História Global- Brasil e Geral;editora Saraiva;SP 2010
http://www.mundoeducação.uol.com.br/
http://www.olhonahistoria.ufba.br/
http://www.diarioliberdade.org/
http://anarquinfo.blogspot.com/

Por: Denise Oliveira/setembro,2011

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