Texto extraído do blog Coletivo Rosa do Povo, lido em sala de aula para reflexão e atividade com alunos da Rede Pública de Educação, nas turmas de primeiro, segundo e terceiro ano do Ensino Médio.
(*) José Renato
André Rodrigues
Hoje no Brasil se faz muita confusão sobre o que é funk, muitos ritmos surgem
e desaparecem. A indústria cultural de acordo com o interesse do mercado muda
nomes e fórmulas de determinadas manifestações artístico-culturais.
A origem do funk se deu nos Estados Unidos, assim com o blues, gospel,
jazz e soul surgiram nas comunidades negras. A palavra funk vem do Inglês que
quer dizer medo, embaraço pusilânime. James Brown é considerado um dos pais do
funk; alguns críticos musicais consideram Michael Jackson e outros cantores
negros estadunidenses como expressão deste gênero musical.
Entre nós o funk começa nos anos 1970 em plena ditadura civil-militar
durante o movimento da Black Music. Alguns consideram Tim Maia, Jorge Benjor,
Sandra de Sá, Gerson King kombo e outros. Dos precursores do ritmo em terras
brasileiras dos anos 1970 ao atual ritmo considerado funk, muita coisa mudou da
influência do Soul à batida de nossos dias cada vez mais o atual chamado funk
demonstra não ter nada haver com a sua origem.
Entre o fim da ditadura civil-militar à volta da democracia burguesa
durante os anos 1980 este ritmo musical não tinha ainda muita força e espaço
nos grandes veículos de comunicação de massas. Vivia-se o auge do chamado rock
Brasil, consolidava-se o rock brasileiro como expressão da juventude que
resistiu à ditadura civil-militar e denunciava as injustiças e os anseios da
jovem geração, onde rádios como a Fluminense FM 94,9 na cidade de Niterói,
estado do Rio de Janeiro divulgavam, bandas como Legião Urbana, Paralamas do
Sucesso, Pleber Rude, Garotos Podres, RPM, Ira, Ultraje a Rigor, Barão Vermelho
e outras bandas eram expressão deste momento histórico da sociedade brasileira,
e com o avanço do neoliberalismo na passagem dos anos 1980 para 1990 o rock
começa a perder alguns espaços na mídia e passa a se restringir a um
determinado público específico e se consolida como um nicho de mercado.
A partir do neoliberalismo, o período é marcado pelo pagode mauricinho,
pelo breganejo criticado por Lulu Santos por conta do apoio a Collor nas
eleições de 1989. Enquanto isso, o funk carioca se espalha pelas comunidades
pobres de todo o Rio atingindo até as academias de ginástica da chamada classe
média da zona sul do Rio.
As primeiras músicas falavam em amor, amizade e problemas sociais. Quem
não se lembra da música do Silva, hoje este ritmo assim como o cenário da
música brasileira apoiada pela grande mídia mudou para pior. Hoje este ritmo do
chamado funk carioca, assim como outros gêneros musicais como a música baiana,
passou a explorar a sexualidade e a pornografia, onde o sexo é visto não na forma
de prazer responsável e libertário, e sim como objeto a ser consumido de forma
irresponsável e vulgar onde o sexo é praticado na forma do salve-se quem puder,
refletindo uma sociedade alienada nas letras, nos bailes, nas roupas das
dançarinas e cantoras do funk, do axé etc. A situação, todos sabem: meninas
grávidas precocemente e abandonadas e os meninos pais sem emprego, formação ou
vítimas da violência urbana onde crianças crescem sem uma estrutura familiar
com todas as possibilidades de reproduzir o eterno ciclo de alienação e miséria
em que vegetam.
Hoje o atual funk carioca nada mais é do que alienação e fuga da
realidade em que vive a maioria dos jovens das camadas mais pobres da nossa
sociedade. Este tipo de música não tem nada de contestador, fazem apologia às
drogas, ao papel submisso da mulher, aos grupos milicianos e dos grupos dos
soldados do comércio varejista de drogas. Sem falso moralismo ou hipocrisia,
este tipo de música não contribui em nada para elevar a consciência das massas
exploradas pelo capital.
Estes ritmos são apoiados e incentivados até por lideranças políticas
ligadas a burguesia para incentivar a vulgaridade das mulheres que através da
exposição de seus corpos como mercadoria, sonhando como as dançarinas do funk
acender socialmente, talvez casar ou engravidar de algum artista, jogador de
futebol ou conseguir algum contrato para alguma revista masculina. Na prática,
é muito difícil isso ocorrer porque nem todas poderão ter as mesmas
chances como ocorre na sociedade capitalista, nem todas vão poder dar o golpe
do baú e se tornar marias chuteiras ou amantes de empresários, artistas e etc.
A grande maioria vai se tornar amante de policiais corruptos ou mulher
de gerentes do comércio varejista de drogas, e gozar de um poder ilusório até
quando a burguesia não precisar mais e estas mulheres vão amargar as prisões ou
encontrar a morte.
Não existe uma política cultural voltada para os filhos das classes
trabalhadoras, assistir um bom show de música é muito caro e alguns ritmos
musicais antes considerados populares se elitizaram tornando-se inacessíveis às
grandes massas, e o poder público por outro lado não procura criar condições
para tornar acessível nem democratiza para as grandes massas bens culturais
criados pela humanidade. Qual a saída para esses jovens? Ir às casas de shows
baratas com seguranças autoritários em sua maioria policiais, ser vitima da
violência, ir ao baile funk e lá saudar os Mc’s totalmente manipulados pelos
soldadinhos do comércio varejista de drogas até porque o grande traficante não
estará lá, mas mora nos bairros elegantes da burguesia; com isto causam a
alienação nos nossos jovens tornando-os domesticados e adaptados ao status quo.
É preciso fazer uma distinção, popular não é popularesco ou lixo. Se
fosse assim não teria surgido o chorinho, o samba, o maracatu, o bumba meu boi,
o Blues, o jazz, o rock, o sertanejo e etc. São incontáveis os artistas
populares como Cartola, Nelson Cavaquinho, Gonzaguinha, Luiz Gonzaga, Djavan,
Jovelina Pérola Negra, Beatles, Elvis Presley, Black Sabbath, Chuck Berry,
Jerry Lewis, The Who, Sex Pistols e tantos outros. Até um palavrão em uma
música deve ter um sentido como faziam os Titãs, Legião Urbana, Ultraje a
Rigor. Hoje o palavrão nas músicas do funk carioca não contesta nada, apenas
contribui para a alienação.
É necessário resgatar a autêntica cultura popular ligada às massas
trabalhadoras, cultura não só para entreter e sim levar à reflexão e
conscientização da população através das artes. Devemos buscar uma cultura
popular que promova a contra-hegemonia e que coloque as massas em movimento e
aponte a necessidade histórica da revolução socialista como a única saída capaz
de libertar a população e quebrar esse círculo vicioso em que vivem as massas
exploradas pelo capital .
José Renato André Rodrigues – Professor de Filosofia; membro do
Comitê Central do PCB
Por: Denise Oliveira, fev/2012
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