quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Brasil: o pesadelo dos anos 70




Ao final dos anos 70 era lançado o álbum “John Lenon Plastic Ono Band”. Na canção God, Lenon afirmava  não acreditar, na Bíblia, em Jesus, em Buda, em Bob Dylan, no movimento hyppe e nos Beatles, afirmando na música “And thahst’s realyter.The dream is over”( E esta é a realidade.O sonho acabou).
O início dos anos 70 parecia  ter sido marcado pela ressaca da década anterior, quando tudo parecia mudar,principalmente no louco ano de 68, onde a juventude deu as cartas, mas perdeu o jogo. A morte violenta  de Malcon X, Martin Luther King, Che Guervara, Carlos Marighela, Carlos Lamarca, a continuidade da Guerra no Vietnã , a manutenção da Guerra Fria, a manutenção das ditaduras militares desmoronamento de países como Chile e Argentina,até então o oásis da democracia na América do Sul. Tudo apontava para o esgotamento da capacidade de transformação do mundo.
O recolhimento pessoal, a luta pela sobrevivência e os atrativos da sociedade de consumo tornaram-se referência dominantes. Não por acaso a música muda, do rock contestador  de Bob Dylan, Janis Joplin, Jimmy Hendrix e Cat Stevens, surge o rock progressivo do Yes, Pink Floyd,Genesis(internacionais), e no Brasil, pela ausência dos maiores músicos surgidos na década de 60, que após o AI 5 foram obrigados a se exilar, como :Caetano Veloso e Chico Buarque, vão surgir movimentos como Clube da Esquina e 14 Bis(MG), Mutantes e , lançando a   voz e estilo diferenciados dos Secos e Molhados. Esse tipo de rock propunha uma nova  forma de sonho, o que procurava evadir-se e não brigar com a realidade.
A verdade é que a década de 1970, foi de derrota total ao sonho de mudança real para a sociedade, os que contestavam estavam fora, seja por problemas políticos, ou por que morreram de over dose. O que restou: dançar bem ou dançar mal, mas dançar sem parar.



Grupo Secos e Molhados













A invasão da música estrangeira na nossa cultura

O modo de vida Brasileiro
Enceradeiras, batedeira, aspiradores de pó, ar-condicionados, máquinas de lavar, aparelhos de som, e a televisão(que chega no final da década de 50 e se transforma em elemento fundamental dos lares mundiais). A julgar pela enxurrada de trecos e cacarecos a invadir os lares de classe média, podemos notar claramente que a forma de entender felicidade muda completamente. O ser feliz nos anos que virão, compreende ter, comprar, trocar, gastar, mudar.Mas longe, bem longe se vai o ser, o dividir.
Os mais felizes e afortunados ostentavam e concretizavam o sonho da “casa própria”. Participar da Aldeia Global, criada em 1965 com a chegada da “Rede Globo de televisão”, que alicerçada pela Ditadura Militar, consegue com suas novelas, programas humorísticos e Telejornais seguidos à risca os mandos dos censores, prenderem a atenção de todos, levando ao excluído a sensação de pertencer a um mundo a qual ele jamais acessará.
Com a prisão, exílio e morte dos maiores intelectuais-políticos e artistas brasileiros, e com a ofensiva da televisão, o país ficou irremediavelmente menos crítico e reflexivo. Ouviam-se cada vez mais músicas norte-americanas, inglesas, irlandesas, cuja a maioria das vezes nem se compreendia o título das canções.Enquanto na música brasileira, o que se ouvia era as baboseiras adocicadas da Jovem Guarda, ou duplas como Dom e Ravel, ovacionando a Ditadura com versos vendidos tais como: “Eu te amo meu Brasil, eu te amo/Meu coração é verde, amarelo, azul anil/ Eu te amo/Ninguém segura a juventude do Brasil.” A juventude mesmo, está sendo morta, na Guerrilha do Araguaia, nas sessões de tortura dos inúmeros DOI-CODIs espalhados pelo país inteiro.

O Auge da Ditadura
Esse ambiente de claro declínio cultural e político, ajuda a explicar o fracasso da luta armada como alternativa ao assalto de poder feito pelos militares apoiados pela CIA em 64, e reafirmados no poder em 13.12.68, com a edição do Ato Institucional n° 5, o golpe dentro do golpe, estava dando resultado.
      “ O Homo brasiliensis reproduzido pela máquina modernizadora do governo pós 64 ficou vazio de interesses culturais. Bibliotecas,exposições de arte,espetáculos de dança e música,teatros, produções massivas de livros e revistas, enfim,todas as formas de refinamento da expressão artística não foram mantidas no horizonte de aspirações públicas como prioritárias, segundo o planejamento socioeconômico posto em execução.
Na verdade, sequer contaram como atividades suplementares. Foram deslocadas para significar meramente formas ornamentais da vida.
 Extraída a dimensão política do cidadão, pouco restou para a área estética da cultura. Retirado do cidadão o acesso à consciência de si, ele ficou encarcerado, sem força objetiva para se libertar, pois somente na prática política a sua consciência  se desdobraria em ação libertadora.”¹

Seleção  Tricapeã Copa México 1970

O governo Médice paralisou a oposição, ampliando  a censura, a repressão política, e usando de forma  escancarada toda as medidas de arbítrio contra as liberdades individuais e mecanismos de justiça. Todos estavam amordaçados.
Mas o efeito devastador de Médice, sobre a oposição, residia em sua popularidade. Nas eleições parlamentares de 1970 e municipais de 1972, a ARENA(Aliança Renovadora Nacional) partido de apoio escandaloso à manutenção ditatorial, obteve vitórias esmagadoras sobre a tímida oposição feita pelo MDB(Movimento Democrático Brasileiro), que não conseguia transpor  o cerco da repressão política a seus quadros.


Cartaz do Filme "Pra Frente Brasil" 
A esquerda armada derrotada em 1973 no meio urbano e a Guerrilha na Floresta Amazônica esfacelada em início de 1974, dará tônica da ordem vigente. Povo emburrecido, educação  alienada e de valores burgueses, valores capitalistas embutidos via principalmente TV e sua programação pobre de conteúdo, cinema,livros e peças teatrais burlescas todos a serviço do entretenimento irresponsável e sem lastro social e cultural. O uso da máquina esportiva e dos símbolos antes populares como o samba, agora sendo usados para frear o desenvolvimento intelectual e crítico da população.
Com todos esses elementos a favor, em 40 anos teremos um país exaurido de valores esdrúxulos, que coisificam naturalmente: as mulheres; gostosas e burras, o negro; como pobre,desdentado e feio, o indígena; como o cara que atrapalha o progresso, os jovens sem perspectiva; os viciados que enfeiam os grandes centros, e os mais velhos;como vagabundos chatos que só querem viver às custas do Estado e os inconformados que não se renderam ao sistema, que pensam por conta própria, que se recusam a assimilar valores vindo da TV, os loucos do contra, os radicais que não fazem outra coisa a não ser falar de política.
O ser analfabeto, mesmo portando diploma de doutor está no controle...e a pergunta é...até quando?

Bibliografia

 ¹Lucas,Fábio.” A Crise da cultura Literária no Brasil Pós 64”,SP,Edusp,1994 Pg.135-136
Campos, Flavio de e Claro, Regina: A Escrita da História, Volume 3;Edições Escala Educacional S/A;SP,2010
www.wikiplédia.org: Rock no Brasil e o Rock Progressivo
Imagens: www.google.com

Por: Denise Oliveira, Janeiro/2013



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