Tenho evitado propositadamente post sobre os 50 anos do
Golpe civil-militar de 01 de abril 1964( a data correta é primeiro de abril,
dia da MENTIRA).
Bem, eu nasci em novembro de 1963, tinha 4 meses de vida e
nada sabia.
Em 68, o ano que
nunca terminou, eu tinha 5 anos nada
podia saber. 1969, lembro bem, pois meu pai que nunca chegava cedo, na noite do
dia 20.06, chegou, nos colocou no sofá e disse, vamos assistir a maior mentira
do mundo. É claro que achei engraçado aquele homem pequeno como eu(era como eu
via), com roupa engraçada, se balançando num lugar estranho. Era a Apollo 11, e
o cara era Neil Amstrong.
Em 1970, com 7 anos. Meu pai nos mostrou a menina queimada
durante a Guerra Vietnã, me doeu ver
aquela imagem e lhe perguntei, pq ela esta correndo com essa cara de medo? E ele
me respondeu. Os E.U.A, promovem o medo pelo mundo a fora.Nem me passava pela
cabeça o terror que vivia mos por aqui.
Estava eu, no primeiro ano do ensino fundamental, Tia
Miriam, era gorda e mau humorada, dizia que se não estudasse mos, ia mos puxar
carroça. Me perguntava, será que pesa, puxar carroça?
1977, agora com 14 anos, na 7°série
do ensino fundamental. Professora Rita de história, nos dá aula, na terça
feira, cai de pau no governo Geisel, nos fala de um jornalista (Wladimir
Herzog) assassinado sob tortura em 1975, por se recusar a falar bem do governo
militar.Ultima vez que há vi. Tão jovem (não passava dos 23 anos ),usava um
calça jeans surrada,e camisetas Hering com frases em português(1 pode ser
grande, mas não é 2), essa camiseta era super usada naquela época, e pedi uma
ao meu pai, que me disse:”Não é bom usar esses dizeres”. Ele explicava pouco,
mas mostrava muito. Meu pai, era medo e indignação. Muito tempo depois eu
consegui entender isso. Duas semanas e nada da professora Rita, fomos em
comissão à direção da escola,perguntar pela Dna Rita,(E.M.Mário Paulo de
Brito), e a diretora, dona Dalva, arrogante como todo diretor daquela
época(aliás, como todo adulto daquela época), nos disse: nunca houve nenhuma
professora nesta escola com esse nome,semana que vem chegará uma professora
para vocês. Cheguei em casa encafifada.À noite narrei o ocorrido a meu pai, e
ele, de novo, me disse:”lembre-se sempre com muito carinho dessa professora,
mas nunca queira saber o que aconteceu a ela, vc nunca saberá”.Ah, esse era meu
pai! Nenhuma resposta completa, sempre pela metade. Para quem sempre quis saber tanto, essas respostas eram
frustrantes.
1979,
agora já com 16 anos, cheguei ao C.E. Visconde de Cairú. Uma nova etapa da
minha começada, agora já era adolescente e estava no Ensino Médio(naquela época
chamado de científico). Os ares já eram novos, se respirava com mais energia o
ar no nosso país. É neste momento, e nesta escola, que eu descobri que tinha
passado toda a minha infância sob um regime autoritário, que para impor os
interesses do capitalismo internacional, dentro da lógica de dominação de
espaço(Guerra Fria), matava, torturava,desmontava toda uma geração. A que
antecedeu a minha.
Foi
a partir de 1979, que tomei consciência de que se não destruísse mos o
capitalismo, logo ele nos destruiria, assim como destruiu os combatentes da
Guerrilha do Araguaia, numa guerra suja, aonde não houve prisioneiros e sim
desaparecidos. Como destruiu as guerrilhas urbanas e ceifou vidas como a do
Capitão Lamarca, Carlos Marighuella e
tantos outros que não caberiam neste artigo-memória, do qual não pretendo que
seja muito grande.
É
neste ano que também eclodem duas grandes greves: no ABC paulista as greve dos
metalúrgicos, sob a liderança do então pouco conhecido torneiro mecânico, Luis
Inácio(Lula) da Silva e no RJ, greve dos professores da rede municipal e
estadual, que durou 90 dias. Era a rebeldia brotando entre os escombros do
terror!
Em
30 de abril 1981, em comemoração ao Primeiro de Maio, um grande show no
Riocentro, com os maiores nomes da música Popular Brasileira da época(época que
diga-se de passagem, a música era realmente muito boa). Uma nova tentativa de
barrar o processo de abertura, iniciada pelo Geisel, e levada adiante de
Figueiredo. Um grupo de milicos aloprados tentam explodir o Riocentro com todo
mundo dentro. A bomba explodiu antes no colo do milico que teria
a tarefa de coloca La no Pavilhão 11, aonde o show acontecia. Eu estava
nesse show, lá de dentro nada ouvimos, até que o Gonzaquinha, ao subir no palco
nos informou do que tentaram fazer. “Tentaram destruir a democracia”. http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/gonzaguinha/anuncio-da-bomba/2505763.¹
O
ano de 1984, foi de um agito total. O Movimento pelas Diretas Já! Que havia começado pequeno sem grandes
alardes no final de 83, tomava as ruas e os comícios promovidos pela “esquerda”
que chegou a colocar um milhão de pessoas nas capitais brasileiras. Aqui no RJ,
o comício da Candelária, levou um milhão
de pessoas, a Presidente Vargas era um único grito...Diretas Já!
Por
meio de manobras, das quais estamos velho de conhecer ( o famoso toma lá dá
cá), a emenda Dante de Oliveira não passou.E a tão sonhada redemocratização
veio através do Colégio Eleitoral, e pelas mãos imundas do José Sarney, que até
então tinha sido um grande beneficiado do período ditatorial.
1.Anuncio da Bomba do Riocentro pelo Gonzaguinha.
A Herança da Ditadura.
A redemocratização veio em 1985, meio torta, através do
Colégio Eleitoral, e pelas mãos de um apoiador da ditadura, José Sarney. Nesses
29 anos de redemocratização, quase nada temos a comemorar, pois a semente da
força plantada nos anos de chumbo ainda florescem a toda hora, na forma da Polícia Militar,
criada no período ditatorial, que hoje mata e mata muito, tortura e tortura
muito, é truculenta e desrespeitosa em relação as lutas da classe trabalhadora.
A escola pública, sofreu um desmonte real, que hoje vemos na
apatia dos nossos alunos, no nível baixíssimo de consciência de classe e de
conhecimento acumulado. As políticas de se montar uma sociedade imbecilizada se
fez presente.
A imprensa e grandes conglomerados de meios de comunicação,
que nasceram durante o período, ainda estão aí manipulando, desenformando
enchendo a cabeça das pessoas, os jovens são os alvos principais, com programas
de extrema cretinice e nenhuma qualidade. O mesmo nas músicas e ler virou
palavrão.
A saúde pública desmontada e a mentalidade de quem se forma
em medicina é voltada para ganhar apenas dinheiro, e ser gente fina.Os salários
dos médicos da rede pública é verdadeiramente baixo, e assim o é, para que a
população não tenha o seu direito básico a vida respeitado.
E neste ano de Copa do Mundo, evento que o povo brasileiro
repudiou, se colocará todo efetivo militar nas ruas, para bater, machucar e até
matar se for o caso para garantir a vontade de governos altamente distantes do
interesses popular.
É 50 anos atrás em 50 anos depois!
Ditadura Nunca Mais....Mas ainda precisamos acabar com a
DITADURA do capital!
Por: Denise Oliveira, março de 2014
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